domingo, 17 de abril de 2016

Longe de Casa, mas perto de ***. Organização: Edna Domenica Merola.

O que sente ao olhar os bancos vazios de uma praça?

Florianópolis, 04 de abril de 2016.
Oi, Edna,

No semestre passado, recebemos seu contato, com a proposta de um contato entre a Oficina Literária do NETI e o projeto Longe de Casa. Naquela ocasião, não conseguimos viabilizar a parceria, mas, agora, com o início de mais uma edição do projeto, nós nos lembramos dessa possibilidade e gostaríamos de verificar se ainda há o interesse.
Como os encontros do Longe de Casa não estão baseados na questão literária, pensamos se seria possível mantermos este contato de uma forma pontual, dentro do projeto.
Uma possibilidade seria que, caso haja interesse por parte dos integrantes da Oficina Literária do NETI, eles, enquanto grupo, enviassem uma carta coletiva aos integrantes do Longe de Casa, contanto sobre suas experiências com o processo de ambientação a Florianópolis e com a construção de uma nova rede de apoio (a senhora havia nos contado que grande parte dos integrantes veio de fora de Florianópolis) e com a experiência das saudades do ponto de vista daquele que fica (já que nos contou também que parte dos integrantes têm filhos que saíram de casa para ingressar no Ensino Superior).
A carta seria entregue no encontro que falará sobre rede de apoio ou saudades, o grupo leria em conjunto e responderia a carta, também de forma coletiva, para entrega aos integrantes da Oficina Literária do NETI. 
Os encontros do "Longe de Casa: e Agora?" terão início no dia 12/04, próxima terça-feira e estão previstos 6 encontros: 12/4, 19/4, 26/4, 3/5, 10/5 e 17/5. Não sabemos ainda ao certo em qual data será tratado o tema das saudades, pois, na metodologia que utilizamos, são os participantes que escolhem a ordem dos temas no primeiro encontro. Sabemos que não será nos dias 12/04 e 17/05, porque são encontros de início e de encerramento do grupo.
Talvez esta proposta possa ser levada aos integrantes da Oficina Literária e, caso haja interesse, então, nos organizaremos para viabilizar a parceria neste semestre.
Pensamos que é importante lembrar que o propósito do projeto "Longe de Casa: e Agora?" é o de acolhimento dos estudantes ingressantes e de auxílio para a ambientação à universidade. Quando abordados a questão das saudades é como suporte para que o sentimento não seja paralisante ou um obstáculo para concretizar o projeto que se inicia com a vinda dos estudantes para cursar o Ensino Superior. É importante que a carta produzida pelo grupo possa oferecer aos estudantes outros olhares sobre as saudades, e não apenas tristeza, como muitas vezes acontece.
Quando você fala que irão compilar as cartas individuais, isso é feito com a participação do grupo? Imaginamos que sim, acreditando ser importante que o "produto final" seja de autoria coletiva. A nossa proposta também é a de que a resposta venha como uma produção coletiva.
Obrigada e abraços,
                           Lara e Elisa


Florianópolis, 04 de abril de 2016.
Oi, Lara e Elisa,

Na oficina de literatura e escrita criativa, a prioridade é a linguagem escrita (atividades: ler e escrever). A fala espontânea é trabalhada no “Jogo psicodramático”, de modo que atividades do tipo fórum, mesa redonda, assembleia sejam feitas “no lúdico”.  A construção coletiva de algo escrito no aqui-e-agora é uma atividade que deixaremos para o final do semestre. 
Costumo dar a tarefa de escrita para casa. Recebo via e-mail ou em mãos na semana posterior à aula dada (as aulas ocorrem às quintas-feiras). 
Postarei as cartas dos alunos sobre o assunto em pauta no nosso blog até o dia 18 de abril. 
Abraço, da Edna.

Florianópolis, 15 de abril de 2016.
Oi, pessoal do Projeto Longe de Casa (E Agora?),

A essa altura, podem estar se perguntando: "Quem são os alunos do NETI?"

Segundo Tiago Dias da Silva (Mestre em Administração pela UFSC), dentre os 876 alunos do NETI, 456 são provenientes de cidades de SC, 192 do RS, 82 de SP, 30 do RJ, 29 do PR, 18 de MG, 11 da BA. Os restantes dividem-se de forma inexpressiva ou nula dentre os demais estados da União.  No NETI, não  há alunos nascidos no DF, nem RO, SE e TO. 
Sobre os alunos da Oficina de Escrita Criativa pesquisamos o tempo de residência na cidade. O que pude saber até o momento: 78,26 % dos alunos têm de 50 a 65 anos. 13,04 % nasceram em Floripa. 86,96 % vieram de fora13,04 % são residentes de 2 a 3 anos. 28,57 % são residentes de 5 a 11 anos. 8,70 % residem de 28 a 30 anos. 43,48 % residem em Florianópolis de 37 a 48 anos. 64,71% assistiram ou ministraram aulas nos últimos 5 anos. 
As cartas que alguns alunos escreveram para vocês referem-se não só à adaptação a uma situação nova, mas também a alguns problemas urbanos, tais como o de transporte coletivo, a ligação entre a ilha e o continente, a balneabilidade de locais que foram praias naturais, a exemplos de Coqueiros e da Lagoa da Conceição.  Tudo isso, a meu ver, escrito com muita generosidade. Envio para sua leitura.
Com um abraço, da Edna.


Florianópolis, 7 de abril de 2016.
Olá, aluna (o) da Oficina de Escrita Criativa do NETI,

O setor Psicologia/ PRAE tem um projeto denominado "Longe de Casa (e agora?)". Reúne alunos da UFSC cujas famílias vivem em outras cidades. Fomos convidados para escrever para eles. 
Encaminho o convite com o mote "Longe de Casa, mas perto de *** que aponta para refletir sobre como cada um escolheu (e escolhe ainda) esta cidade para residir.
Os textos em formato de cartas serão enviados por e-mail e revisados para publicar no nosso blog.
O que acha de aceitar esse convite de escrita? Já aceitou? Então, após escrever, envie seu texto para mim.
Aguardo seu trabalho, 
                                     Edna.

  
Florianópolis, 12 de abril de 2016. 
Caros Calouros,

Em 1976, passei no vestibular da Universidade Federal de SC para o curso de Odontologia. Começava então uma nova etapa da minha vida, onde tive que me virar só, longe de casa, longe de Orleans. A primeira barreira foi vencer minha timidez. Depois vieram as questões a resolver, quanto seria o gasto, onde, e com quem morar? Como me deslocar para as aulas, meus pais poderiam me manter?
No dia que vim a Florianópolis para a matrícula no curso, conversando com outras pessoas sobre moradia, alguém me recomendou um lugar, uma pensão para moças na Avenida Mauro Ramos.
Assim tudo foi se encaminhando.
A pensão para moças foi meu lar longe de casa, onde dividia o quarto com outras três estudantes, e a casa com outros mais, pois mais quartos eram ocupados por estudantes de vários outros cursos.
A senhora, dona da pensão, pessoa acolhedora, séria e correta estava sempre pronta para ajudar suas meninas pensionistas, o que para mim foi um porto seguro, onde morei até o dia da minha formatura.
Foi muito boa minha convivência durante este período de estudante. As dificuldades foram superadas com esforço e restaram boas recordações de noites em claro estudando, de companheirismo, de conselhos, de desabafos, de choros, de festas e de amizades.
O final feliz: a profissão que amei.
                                         Terezinha Lolli Savi (60 anos).


Florianópolis, 12 de abril de 2016.
Caríssimos,

Minha experiência de adaptação em Florianópolis, não foi das melhores.
Saí de uma cidade pequena no sul do estado de Santa Catarina, para iniciar meus estudos na UFSC, em março de 1974, e fui morar numa “república de estudantes”. 
Era uma casa de três dormitórios e apenas um banheiro, onde morávamos em nove estudantes. Eu como calouro, de início sofri um pouco, isso porque tive que me sujeitar ao que sobrava, pois as melhores acomodações já estavam reservadas aos veteranos. Não bastasse isso, como de costume, era comum discriminar os calouros, eu também não fui poupado dessa abominável tradição.
Com o tempo as coisas foram melhorando, até que chegou o segundo semestre, e o estigma de calouro desapareceu. Mesmo assim muitas barreiras demoraram a ser vencidas: a distância e a saudade de casa, dos familiares, dos amigos, principalmente nos finais de semanas, era motivo de muita angústia.
Quantas e quantas vezes me passou pela cabeça: vou desistir dos estudos e vou fazer concurso para o Banco do Brasil.
Naqueles tempos trabalhar no Banco do Brasil era o sonho de muitos jovens.
Certa vez quando fui visitar meus familiares troquei ideias com meu pai a respeito dessa situação, e ele foi enfático.
‒ Continue a estudar, que eu vou te ajudar até a formatura.
Desse dia em diante dediquei-me a o máximo, e com a Graça de Deus consegui formar-me Engenheiro.
Hoje só tenho a agradecer a todos que de um modo ou outro me ajudaram nessa conquista.
                    Vânio (62 anos).


Florianópolis, 16 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Vou contar um pouco da minha história.
Nasci na Serra Catarinense, onde cresci e estudei, saindo de lá com 17 anos.
Meu pai era funcionário público, mudou-se para Florianópolis e trouxe minha mãe e meus irmãos menores. Cheguei em dezembro, alguns meses depois, época de muito calor e sentia muito sono. Tive que me adaptar ao clima, aos costumes, aos nossos vizinhos, enfim, à maneira de viver aqui.
Morávamos em Coqueiros, aonde eu e meus irmãos íamos à praia diariamente. A areia era quente de queimar os pés, quando descalços. Às vezes víamos peixes, siris, camarão que os pescadores traziam. Também estrelas do mar e ouriço. Tudo era novidade, pois estávamos acostumados com as espécies de água doce.
Não sabia nadar, mas aos poucos fui entrando na água que era salgada e quente, muito gostosa. Aprendi com nossos amigos que primeiro era preciso aprender a boiar para depois nadar e assim podia ir mais longe no mar.
À noite conversávamos na praia, com os amigos, e meu irmão tocava violão, ali ficávamos até quase meia noite, hora estabelecida para voltar para casa, sem muito barulho.
Em março do ano seguinte iniciei os estudos no segundo ano do normal, hoje classificam como magistério. Não tinha muitas amigas, mas as amizades que fiz permanecem até hoje. Ia ao colégio de ônibus, que demorava em torno de quarenta e cinco minutos, a estrada era de chão e passava pela ponte Hercílio Luz, a única na época ligando o continente à ilha.
Eu questionava muito o fato de ter mudado de cidade, mas depois que comecei os estudos, fiquei mais tranquila, estudava, dava aulas particulares para crianças com dificuldades de aprendizagem.
Fui professora de adultos à noite, no Bairro de Coqueiros, e aprendi que disciplina e boa vontade andam juntas, não tinha medo, apesar de meus pais ficarem preocupados. Nessa época não havia tanta violência como atualmente.
Continuei os estudos, trabalhei e hoje sou aposentada.
                                                                    Cleide (69 anos).


Florianópolis, 19 de abril de 2016.
Caros calouros,

Como vim parar em Florianópolis? Nascida no interior do Estado do Paraná, onde vivi até meus 14 anos, vim para Santa Catarina, inicialmente, para São Francisco do Sul, onde morava meu irmão. Com 15 anos, voltei para o norte do Paraná, para estudar Teologia, num colégio interno, ficando dois anos em Arapongas, transferi-me para Londrina, onde dei prosseguimento aos estudos, concluindo, também o ensino médio e retornei para Joinville, onde cursei a faculdade de Pedagogia.
Depois de trabalhar vários anos nas cidades circunvizinhas, mudei-me para Florianópolis, em 2003. Atualmente, moro no norte da ilha, na praia de Canasvieiras, onde sou muito feliz e não penso mais em sair daqui.
                                             Vilma Ferreira Bueno (62 anos)


Florianópolis, 10 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Florianópolis é a cidade natal de meu pai e após sua aposentadoria, retornou com sua família para sua tão amada terra.
Floripa já era íntima, porque era aqui que passávamos nossas férias. Belas praias, natureza exuberante, tão bem cantada no Rancho de Amor à Ilha.
Sou apaixonada por esta ilha e não me imagino longe daqui.
Muito levei filhos adolescentes para surfarem nas ondas da Joaquina, Praia Mole, Santinho...
E me encanto em visitar as praias que ainda trazem nas suas construções o registro do açoriano que o tempo não apagou.
Cacupé, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui, maravilhoso o pôr do sol, que mais parecem quadros pintados à mão, de tão linda que são as imagens.
Ribeirão da Ilha, com a sua vila açoriana, que é uma volta ao passado.
Floripa uma linda ilha.
Floripa um pedacinho do paraíso...
Longe de casa, mas perto do paraíso... 
Aqui estou em Floripa, residindo há 41 anos.
                                                         Dulcirene (57 anos).


Florianópolis, 15 de abril de 2016.
Caros Novos Florianopolitanos,

Longe de casa, perto da natureza exuberante da Ilha de Florianópolis!
Lugar mágico que me trouxe para perto de mim mesma.
Eu, paulista, paulistana, que não conseguia me imaginar viver em outro lugar, que são fosse a capital de São Paulo, onde tinha à disposição cinemas, teatros, compras, restaurantes, trabalho e áreas de lazer para poder escolher...
Creio que, ao visitar esta Ilha, fui enfeitiçada por ela, que me fez sonhar em viver aqui com minha família.
Ela é muito importante em minha história, porque foi através dela que resgatei o amor e confiança de minha filha, solidifiquei o amor e a cumplicidade com meu grande amor, e criei aqui, desde pequenino, o fruto dessa união.
Aqui também, fui ao fundo de mim mesma e estou conquistando o autoconhecimento, fundamental para a atual fase de minha existência.
Longe de casa e perto de mim mesma!
                                               Sandra Lúcia (56 anos).


Florianópolis 20 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Gostaria de falar um pouco da minha experiência de vida como moradora de Florianópolis.
Nasci aqui nesta linda cidade há cinquenta anos atrás: no tempo em que ainda nem passava ônibus no bairro onde minha mãe estava quando chegou a hora de eu vir para este mundo. Meu avô levou minha mãe de carroça com cavalos até a maternidade Carmela Dutra.
Onde meus pais moravam nem carro de cavalos havia. Ainda nos dias de hoje só a pé e de bicicleta.
Meu pai era da Costa da Lagoa e minha mãe de Ratones onde estava com meus avós no momento em que resolvi nascer.
Hoje agradeço a Deus que o progresso ainda não chegou neste lindo lugar que ainda se encontra belo e com qualidade de vida junto à natureza. Para chegar lá, precisamos atravessar de barco ou fazer caminhadas pelas trilhas da Lagoa para a Costa ou de Ratones para a Costa da Lagoa.
O cenário ao longo do caminho é um espetáculo!
A trilha que vai de Ratones para a Costa da Lagoa é maravilhosa de tirar o fôlego (não digo de cansaço, mas de exuberante)! É linda mesmo... Podemos contemplar as praias da Barra da Lagoa, Galheta, Praia Mole, Joaquina e Lagoa da Conceição.
Aos quatro anos de idade, vim morar na Lagoa da Conceição com mais dois irmãos. Hoje somos nove irmãos (graças a Deus todos vivos!).
Naquele tempo: 1969, a Lagoa da Conceição não tinha muitas casas nem restaurantes. Dá para imaginar com era a Lagoa linda e transparente?! Pescávamos camarão com as mãos, de tão limpa que era a água.
Mas ainda temos muitas coisas maravilhosas aqui na ilha de Floripa. Temos a trilha de naufragados que é outro espetáculo! A chegada à praia recompensa a caminhada de 50 minutos.
Gosto de morar aqui no inverno, pois no verão está ficando um pouco tumultuado.
Um beijo e sucesso nas suas escolhas,
                                            Arlete ( 50 anos)


Florianópolis, 19 de abril de 2016.
Caros calouros,

Lembro, como se fosse hoje, o dia em que pela primeira vez passei pela ponte Hercílio Luz, deixava então para trás minha querida cidade de Angelina, onde ficaram meus pais, irmãos e amigos.
Hoje sei que era apenas uma criança de 14 anos que saía do interior e vinha conquistar a capital.
O fascínio pelo novo, a emoção da cidade grande e a saudade de minha família tornaram meu coração um misto de emoções que demorei a compreender.
O cheiro do mar era novidade o barulho e o amontoado de pessoas pelo centro me fascinava e assustava. Sem saber eu era mais uma criança do interior lutando para sobreviver na capital.
Trabalhei muito, do pouco que ganhara sempre reservava algum dinheiro para minha família. Sou a primogênita de uma família com 10 filhos e isto fez com que sentisse o peso da responsabilidade. Sou vitoriosa, em Florianópolis a capital construí uma vida linda, criei minhas filhas e meu neto.
Fiz desta terra o meu lar, todavia jamais me esqueci do verde das matas de Angelina. E até hoje vivo porque dentro de mim existe o equilíbrio do mato e do mar para acalentar minha alma.
VERA (53).


Cara Edna,

escrevemos para deixar retorno do pessoal do Longe de Casa: e agora? O blog NETIATIVO foi visto no último grupo do Longe de Casa. Os estudantes do grupo não desenvolveram escrita, mas desejam agradecer pelo compartilhamento das vivências e pelas palavras carinhosas direcionadas a eles.
Obrigado a todos os participantes da Oficina de Escrita Criativa do NETI!
Atenciosamente,
Elisa e Lara


Atenção em Psicologia
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE)
Universidade Federal de Santa Catarina


Adendo: Rancho de Amor à Ilha. 
Cláudio Alvim Barbosa (Zininho)



Nenhum comentário:

Postar um comentário