segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Trem das Onze. Wilma Coral Mendes de Lima.

Não posso ficar                                                              
                                            
Com você
Nem mais um minuto
O trem vai passar. Já!
É rápido, muito rápido.
Passa pelos campos
E eles se transformam
Em verdes borrões
As montanhas num difuso azul
As crianças em pequeninas sombras
Os pássaros, as flores
Em quase nada
E eu... no trem
Vendo a vida que passa, assim
Rápida, implacável
Não sou filha única
XV SEPEX. 21/10/2016
Sou única
Visível... invisível
Previsível... imprevisível
Inteira... Dividida
Não posso ficar
Com você                                                                         
Nem mais um minuto
Se eu perder esse trem
Que passa agora
Às onze horas
Só amanhã de manhã
Se houver manhã
Se houver amanhã
Tenho tanto para contar
Tantos olhos para olhar
Tantas músicas para ouvir                                 
Vida para dividir
Flores para plantar
Pego o trem?
Fico com você?
Que se dane!

Vou a pé!

Quarta-feira, 24 de setembro de 2014.
É PRIMAVERA.

Fui procurar a Primavera
No Planalto distante
Encontrei os imensos gramados
Tristes a me olhar
De boca aberta
Implorando por uma gota
De chuva...tardia chuva
O ipê amarelo, o branco
De luto
A sapucaia, antes faceira
Sem o seu vestido vermelho
Mas o céu estava lá
Límpido, azul, festivo
O horizonte infinito
Então fechei os olhos
E revivi outras Primaveras
Da juventude, dos sonhos
Do amor vivido
Das esperanças compartilhadas
Dos dias de muita labuta
E aqueles de muita festa
De muitas flores
De muita preguiça
Vi minha menina
Vestida de bailarina
Rodopiando...feliz
A Primavera era ela
Tinha uma rosa na mão
(Como na canção)
Para me dar
Meu menino correndo
Pelos gramados verdes
Com seu cabelinho ao vento
Procurando chegar
Na beirada da terra
Sem  montanhas
Lá longe, se chegar lá
Dá para  ver o abismo
E voar para o infinito
E a chuva caindo
Sem parar
Alimentando a terra
A grama, a flor
Colorindo os ipês, as sapucaias
Colorindo a vida
Uma Primavera de lembranças
Que guardo na alma

Comentário por Edna Domenica Merola

O fio do tempo no poema é dirigido pelo olhar. Primeiro desloca a leitor da cidade onde se encontra para o Planalto. Do Planalto imaginado (e pautado na própria experiência da leitora) os versos vão causando cada vez mais a impressão de participar da cena reconstruída pela memória da poetisa. E a leitora pode compartilhar enfim da presentificação e sentir-se a mãe que acompanha ou a criança que corre em busca da linha do horizonte. Fica o pedido à poetisa: quero ouvi-la declamar seu poema.


Terça-feira, 9 de setembro de 2014.
Cor de Rosa Choque
                                             
Acho que o rosa choque no poema de Rita Lee simboliza o feminino, a nova mulher. Não a mulher passiva “rosa bebê”, a cor que sempre a simbolizou.
Menino é azul, menina é cor de rosa.
Rosa clarinho, quietinho, comportado, submisso, quase imperceptível... Foi (ainda é?) desde o “enxovalzinho” preparado antes da criança nascer.
Aqui, porém, o rosa é choque, um novo tom, forte, irreverente, difícil de não ser notado, respeitado. A mulher continua rosa, não nega sua condição feminina, sua doçura, sua suavidade, (o poema poderia ter lhe atribuído outra cor, não o fez) mas o rosa é choque, fácil de iluminar os novos caminhos, de mostrar como enfrentar a cotidiana luta.
Provoque sim e se deixe provocar. A provocação é salutar. Ela nos empurra para o novo, para fugir da mesmice, da letargia. Sexo frágil (frágil?) não foge à luta. É cor de rosa choque.


Cor De Rosa Choque. Rita Lee

Nas duas faces de Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso de quem nada quer
Sexo frágil
Não foge à luta
E nem só de cama vive a mulher
Por isso não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Por isso não provoque
É cor de rosa choque
Mulher é bicho esquisito
Todo o mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
Gata borralheira
Você é princesa
Dondoca é uma espécie em extinção
Por isso não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Por isso não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque

Quarta-feira, 24 de setembro de 2014
A Primavera (acróstico)

Amo os dias

Pintados de cores vivas
Renasce o mundo
Intensamente
Mares mais azuis
Auroras mais brilhantes
Verdes gramados
Em tardes de Primavera
Reinvento a vida
Amo com mais amor.

Domingo, 16 de novembro de 2014.
Elis.

Hoje vi
Uma revoada de pássaros
Imaginei Elis
No meio deles
Batendo os braços
Qual asas
Voando feliz
Para a imensidão
Do céu azul
Cantando com os pássaros
Na ânsia
De atingir o infinito
Rompendo barreiras
Até encontrar
Um lugar
Onde a liberdade
Realmente existe
Os pássaros
Vão voltar
Eles sempre voltam
Elis não
Porque descobriu
O mundo invisível
Do lado de lá
Sem hipocrisias
Sem medos
Ou escuridão
Sem a dor cruel
Da solidão
Cantando o amor
Tão difícil aqui
Cantando o encontro
Após tantos desencontros
Cantando outra vida
Eterna...serena
Esquecendo a dor
Que deixou para trás
Para nós a saudade
Para ela

Luz... muita luz!

Sábado, 27 de setembro de 2014.

Resposta à "Vingança"
(Réplica a Lupicínio Rodrigues)

Sou a mulher
Que seus amigos encontraram
Na mesa de um bar
Sim, eu bebia!
Bebida geladinha, gostosa
Era num cair de tarde
Quente, muito quente
Celebrava a vida
Minha liberdade
A dor superada
Da separação
O encontro com a mulher (eu)
Em construção
O que eles lhe contaram
Foi para lhe agradar
Para fazer você sorrir
Menino triste
Que esqueceu de crescer
Perguntaram por você
É verdade!
Não é verdade o meu soluço
Passou sim pelos meus olhos
Uma nuvem de tristeza
Pelo que poderia ter sido
E não foi
Pelos anseios frustrados
Pelas esperanças despedaçadas
Pela solidão a dois
Não tenho remorso
Tentei...e tentei...
Nem desespero
O dia nasce a cada manhã
Também o amor
Que há de acontecer
De novo
Não respondo à vingança
Com vingança
Vingança é um sentimento vil
Irmã gêmea do ódio
Da frustração
Da infelicidade
Fere a quem quer ferir
Desejo a você a felicidade
Da maturidade
Da doçura
Posso rolar qual as pedras
Elas  não tem arestas
Como eu
Rolar na estrada
É melhor que a estagnação
Vou sair do caminho
Estreito...sempre igual
Descer cantando a ribanceira
Cair na água fresca do rio
Depois alcançar o mar
Lá longe encontrar o meu cantinho
E alguém para compartilhar
Beijar a boca... lavar a roupa
De dia, de noite
Num mesmo cenário
De amor
De paixão
De companheirismo
E de ternura
Vingança? Pra quê?


Notas da Editora do Blog Netiativo
Resposta a "Vingança" foi escrita por Wilma em setembro de 2014. Vingança faz parte de LP lançado em 1974 com as obras originais de Lupicínio Rodrigues. O texto de Wilma é uma réplica (com voz feminina), ainda que o compositor da primeira (voz masculina) não seja contemporâneo dela. Isto quer dizer que é uma réplica ou diálogo que de gênero (que ainda persiste).


Vingança.
             Lupicínio Rodrigues

Eu gostei tanto,
Tanto quando me contaram
Que ihe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz,
Não lhe deixou falar.

Eu gostei tanto,
Tanto, quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço
Prá ninguém notar.

O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Ela deve estar bem consciente
Do que praticou,
Me fazer passar tanta vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou;

Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar

Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar.

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