Com
você
Nem
mais um minuto
O
trem vai passar. Já!
É
rápido, muito rápido.
Passa
pelos campos
E
eles se transformam
Em
verdes borrões
As
montanhas num difuso azul
As
crianças em pequeninas sombras
Os
pássaros, as flores
Em
quase nada
E
eu... no trem
Vendo
a vida que passa, assim
Rápida,
implacável
Não
sou filha única
Visível...
invisível
Previsível...
imprevisível
Inteira...
Dividida
Não
posso ficar
Com
você
Nem
mais um minuto
Se
eu perder esse trem
Que
passa agora
Às
onze horas
Só
amanhã de manhã
Se
houver manhã
Se
houver amanhã
Tenho
tanto para contar
Tantos
olhos para olhar
Tantas
músicas para ouvir
Vida
para dividir
Flores
para plantar
Pego
o trem?
Fico
com você?
Que
se dane!
Vou
a pé!
Quarta-feira, 24
de setembro de 2014.
É PRIMAVERA.
Fui
procurar a Primavera
No
Planalto distante
Encontrei
os imensos gramados
Tristes
a me olhar
De
boca aberta
De
chuva...tardia chuva
O
ipê amarelo, o branco
De
luto
A
sapucaia, antes faceira
Sem
o seu vestido vermelho
Mas
o céu estava lá
Límpido,
azul, festivo
O
horizonte infinito
Então
fechei os olhos
E
revivi outras Primaveras
Da
juventude, dos sonhos
Do
amor vivido
Das
esperanças compartilhadas
Dos
dias de muita labuta
E
aqueles de muita festa
De
muitas flores
De
muita preguiça
Vi
minha menina
Vestida
de bailarina
Rodopiando...feliz
A
Primavera era ela
Tinha
uma rosa na mão
(Como
na canção)
Para
me dar
Meu
menino correndo
Pelos
gramados verdes
Com
seu cabelinho ao vento
Procurando
chegar
Na
beirada da terra
Sem montanhas
Lá
longe, se chegar lá
Dá
para ver o abismo
E
voar para o infinito
E
a chuva caindo
Sem
parar
Alimentando
a terra
A
grama, a flor
Colorindo
os ipês, as sapucaias
Colorindo
a vida
Uma
Primavera de lembranças
Que
guardo na alma
Comentário
por Edna Domenica Merola
O
fio do tempo no poema é dirigido pelo olhar. Primeiro desloca a leitor da
cidade onde se encontra para o Planalto. Do Planalto imaginado (e pautado na
própria experiência da leitora) os versos vão causando cada vez mais a
impressão de participar da cena reconstruída pela memória da poetisa. E a
leitora pode compartilhar enfim da presentificação e sentir-se a mãe que
acompanha ou a criança que corre em busca da linha do horizonte. Fica o pedido
à poetisa: quero ouvi-la declamar seu poema.
Terça-feira, 9
de setembro de 2014.
Cor de Rosa
Choque
Acho
que o rosa choque no poema de Rita Lee simboliza o feminino, a nova mulher. Não
a mulher passiva “rosa bebê”, a cor que sempre a simbolizou.
Menino
é azul, menina é cor de rosa.
Rosa
clarinho, quietinho, comportado, submisso, quase imperceptível... Foi (ainda
é?) desde o “enxovalzinho” preparado antes da criança nascer.
Aqui,
porém, o rosa é choque, um novo tom, forte, irreverente, difícil de não ser
notado, respeitado. A mulher continua rosa, não nega sua condição feminina, sua
doçura, sua suavidade, (o poema poderia ter lhe atribuído outra cor, não o fez)
mas o rosa é choque, fácil de iluminar os novos caminhos, de mostrar como
enfrentar a cotidiana luta.
Provoque
sim e se deixe provocar. A provocação é salutar. Ela nos empurra para o novo,
para fugir da mesmice, da letargia. Sexo frágil (frágil?) não foge à luta. É
cor de rosa choque.
Cor De Rosa
Choque. Rita Lee
Nas
duas faces de Eva
A
bela e a fera
Um
certo sorriso de quem nada quer
Sexo
frágil
Não
foge à luta
E
nem só de cama vive a mulher
Por
isso não provoque
É
cor de rosa choque
Não
provoque
É
cor de rosa choque
Não
provoque
É
cor de rosa choque
Por
isso não provoque
É
cor de rosa choque
Mulher
é bicho esquisito
Todo
o mês sangra
Um
sexto sentido maior que a razão
Gata
borralheira
Você
é princesa
Dondoca
é uma espécie em extinção
Por
isso não provoque
É
cor de rosa choque
Não
provoque
É
cor de rosa choque
Não
provoque
É
cor de rosa choque
Por
isso não provoque
É
cor de rosa choque
Não
provoque
Quarta-feira, 24
de setembro de 2014
A Primavera
(acróstico)
Amo os dias
Pintados de cores
vivas
Renasce o mundo
Intensamente
Mares mais azuis
Auroras mais
brilhantes
Verdes gramados
Em tardes de
Primavera
Reinvento a vida
Amo com mais
amor.
Domingo, 16 de
novembro de 2014.
Elis.
Hoje
vi
Uma
revoada de pássaros
Imaginei
Elis
No
meio deles
Batendo
os braços
Qual
asas
Voando
feliz
Para
a imensidão
Do
céu azul
Cantando
com os pássaros
Na
ânsia
De
atingir o infinito
Rompendo
barreiras
Até
encontrar
Um
lugar
Onde
a liberdade
Realmente
existe
Os
pássaros
Vão
voltar
Eles
sempre voltam
Elis
não
Porque
descobriu
O
mundo invisível
Do
lado de lá
Sem
hipocrisias
Sem
medos
Ou
escuridão
Sem
a dor cruel
Da
solidão
Cantando
o amor
Tão
difícil aqui
Cantando
o encontro
Após
tantos desencontros
Cantando
outra vida
Eterna...serena
Esquecendo
a dor
Que
deixou para trás
Para
nós a saudade
Para
ela
Luz...
muita luz!
Sábado,
27 de setembro de 2014.
Resposta à
"Vingança"
(Réplica a Lupicínio
Rodrigues)
Sou
a mulher
Que
seus amigos encontraram
Na
mesa de um bar
Sim,
eu bebia!
Bebida
geladinha, gostosa
Era
num cair de tarde
Quente,
muito quente
Celebrava
a vida
Minha
liberdade
A
dor superada
Da
separação
O
encontro com a mulher (eu)
Em
construção
O
que eles lhe contaram
Foi
para lhe agradar
Para
fazer você sorrir
Menino
triste
Que
esqueceu de crescer
Perguntaram
por você
É
verdade!
Não
é verdade o meu soluço
Passou
sim pelos meus olhos
Uma
nuvem de tristeza
Pelo
que poderia ter sido
E
não foi
Pelos
anseios frustrados
Pelas
esperanças despedaçadas
Pela
solidão a dois
Não
tenho remorso
Tentei...e
tentei...
Nem
desespero
O
dia nasce a cada manhã
Também
o amor
Que
há de acontecer
De
novo
Não
respondo à vingança
Com
vingança
Vingança
é um sentimento vil
Irmã
gêmea do ódio
Da
frustração
Da
infelicidade
Fere
a quem quer ferir
Desejo
a você a felicidade
Da
maturidade
Da
doçura
Posso
rolar qual as pedras
Elas não tem arestas
Como
eu
Rolar
na estrada
É
melhor que a estagnação
Vou
sair do caminho
Estreito...sempre
igual
Descer
cantando a ribanceira
Cair
na água fresca do rio
Depois
alcançar o mar
Lá
longe encontrar o meu cantinho
E
alguém para compartilhar
Beijar
a boca... lavar a roupa
De
dia, de noite
Num
mesmo cenário
De
amor
De
paixão
De
companheirismo
E
de ternura
Vingança?
Pra quê?
Notas
da Editora do Blog Netiativo
Resposta
a "Vingança" foi escrita por Wilma em setembro de 2014. Vingança faz
parte de LP lançado em 1974 com as obras originais de Lupicínio Rodrigues. O
texto de Wilma é uma réplica (com voz feminina), ainda que o compositor da
primeira (voz masculina) não seja contemporâneo dela. Isto quer dizer que é uma
réplica ou diálogo que de gênero (que ainda persiste).
Vingança.
Lupicínio Rodrigues
Eu
gostei tanto,
Tanto
quando me contaram
Que
ihe encontraram
Bebendo
e chorando
Na
mesa de um bar,
E
que quando os amigos do peito
Por
mim perguntaram
Um
soluço cortou sua voz,
Não
lhe deixou falar.
Eu
gostei tanto,
Tanto,
quando me contaram
Que
tive mesmo de fazer esforço
Prá
ninguém notar.
O
remorso talvez seja a causa
Do
seu desespero
Ela
deve estar bem consciente
Do
que praticou,
Me
fazer passar tanta vergonha
Com
um companheiro
E
a vergonha
É
a herança maior que meu pai me deixou;
Mas,
enquanto houver força em meu peito
Eu
não quero mais nada
Só
vingança, vingança, vingança
Aos
santos clamar
Ela
há de rolar como as pedras
Que
rolam na estrada
Sem
ter nunca um cantinho de seu
Pra
poder descansar.
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