segunda-feira, 20 de março de 2017

Textos produzidos por Maria da Graça Louzada Miranda, a partir das Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I.


Créditos da foto: Merola



Feriado é dia de Vó
Histórias e menos TV
Pipocas
Bolo Negra Maluca,
Brigadeiro
Rsrsrs...

23/3/2017







Trabalho da Oficina de 30/3/2017 realizado por Auri Silva e Maria da Graça Louzada Miranda: MEMÓRIAS DE SIMONE - correspondência entre Simone e Miguel.
Carta de Miguel para Simone
São Paulo, 30 de março de 1966.
Querida Simone,

Desde que cheguei à terra da garoa, onde tudo se movimenta rápido, lembro com saudade dos amigos e de Florianópolis com suas belezas infinitas.
Minha querida, consegui realizar meu sonho. Estou estudando na Faculdade de Direito de São Paulo no Largo São Francisco. Você é a primeira pessoa para quem quis dar a notícia. 
Embora feliz por ter passado no vestibular, estou custando adaptar-me nesta metrópole de concreto. Os dias são cinza e cinza é a cor da solidão. Trouxe pouco dinheiro e precisando me sustentar, sem conseguir trabalho, tive que sair de um pequeno quarto por não conseguir pagar o aluguel.
Nada é simples e fácil nesta cidade grande. Precisei dormir em albergues e algumas vezes me escondia e dormia num canto qualquer da faculdade.
O momento político incerto, a perseguição aos estudantes pelo regime militar, tudo gira num clima de incertezas. Com muito pouco dinheiro recorri a todos os tipos de trabalho, disposto a fazer qualquer coisa. Lavei louça e fiz faxinas em restaurantes, trabalhei na cantina de uma escola, vendi cachorro quente na Rua 25 de Março.
Tendo muito pouco tempo para estudar, meus colegas não me acolheram na turma. Eu era apenas o ‘Catarina’. Depois fui trabalhar num restaurante atendendo num balcão e foi lá que comecei assistir a novela Redenção, via apresentações da Jovem Guarda, pois trabalhava nos finais de semana também.
A maturidade chegou.
Finalmente consegui um emprego na Livraria Cultura, na Avenida Augusta. Estou trabalhando com livros que é o que eu mais gosto. Recebo um salário mínimo de 84.000 mil cruzeiros.
Em todos os locais ouço a música ‘A Banda’ e me lembro de nós dois dançando. Na minha folga fui assistir ao filme ‘À Sombra de um Gigante’ com Kirk Douglas e gostaria que estivesse junto comigo.
Nunca imaginei que sentiria tanto a sua falta. Meus sentimentos por você são profundos e intensos.
Espero ansioso a sua resposta, Simone.
Um abraço carinhoso.
Miguel.

Carta de Simone para Miguel:
Florianópolis, 30 de março de 2017.
Caro Miguel,
Nos primeiros dias de outono de 2017, senti uma coisa esquisita, mistura de ternura e saudade de um tempo que foi pouco tempo.
De repente meus olhos se perderam no infinito e meus pensamentos voltaram ao ano de 2000 quando recebi a sua carta trinta e quatro anos depois.
Fiquei surpresa e desapontada com a atitude de minha mãe por guardar tal correspondência por tanto tempo, sabendo que eu esperava ansiosa notícias suas.
Tinha cinquenta anos no ano 2000, quando minha mãe, na premência da morte, finalmente me entregou a sua carta de 1966.  Li e reli a carta esperada por tanto tempo, com as mãos trêmulas de emoção, e lembrei com ternura a menina do antes de dezesseis anos que muito triste ficara com a sua partida para São Paulo, e mais ainda por não receber nenhuma notícia.
Com o passar dos anos, temos a maturidade para entender que ninguém realmente sabe o porquê alguém faz o que faz ou diz o que diz. Que minha mãe descanse em paz.
Faz dezessete anos que deixo de um dia para o outro para responder a carta do querido amigo.
Imagino todas as dificuldades que você deve ter passado nessa metrópole.
A vida é surpreendente, gira como um carrossel e novamente alguém muito importante para mim decide se mudar para São Paulo.
Assim como você, meu neto de dezoito anos passou no vestibular da USP há dois anos. Mesmo recebendo uma mesada da família, que cobre despesas de aluguel e material da faculdade, ele precisa se sustentar. Fez de tudo para arrumar um emprego, vivemos em outros tempos, caro Miguel, e tudo é bem mais difícil agora. Todos os lugares que faz entrevista pede experiência, mas ele não tem. Precisou durante muito tempo vender doces, fazer malabarismo nas sinaleiras e também lavou pratos e trabalhou em restaurante como você.
Finalmente nesse ano de 2017 conseguiu um emprego na própria faculdade como bolsista e para ele é o suficiente.
Minha mãe sempre morou comigo e adorava a novela Redenção que não acabava nunca.
Sempre estive ligada a vida cultural de São Paulo. Em 1966, gostaria de ter ido para São Paulo assistir ‘Morte e Vida Severina’, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, grande prêmio do teatro mundial universitário.
Lembrei muito do amigo distante, em agosto de 1966, quando os Beatles deram um concerto em São Francisco. Nossas músicas que tanto amávamos. Ainda hoje, ao ouvir ‘A Banda’ vejo seu rosto sorrindo para mim.
Custa-me acreditar que receberás esta carta, talvez nem mores no mesmo endereço, quase apagado no envelope.
Miguel eu escrevo tudo através do computador e falo com as pessoas em tempo real em qualquer lugar do mundo, mas não poderia perder a oportunidade de escrever uma missiva com a minha caneta tinteiro de pena dourada.
Estamos num momento em que vivemos a era virtual de uma sociedade líquida que os amigos são virtuais, sentimentos e privacidade são expostos e tudo é descartável. Não sou contra a tecnologia, pois a mesma une pessoas quando estão distantes, concomitantemente afasta as pessoas que estão próximas.
Não fui nem sou infeliz, mas como seriam nossas vidas se tivesse recebido a sua carta em 1966?
Jamais saberemos.
Miguel, neste ano de 2017 voltei a estudar.  Estou matriculada na Oficina de Criação Literária que funciona na UFSC.
Sempre tive a pretensão de escrever às minhas memórias, o título será ‘A Saga de Simone’. Você será um dos personagens principais.
Grande e afetuoso abraço da amiga de sempre.
Simone.


Carta de Apresentação. NETI. Oficina de Criação Literária
Florianópolis, 16 de março de 2017.
Professora Edna,

Meu nome é Maria da Graça Louzada Miranda, nasci no Congresso Eucarístico de 1948, em Porto Alegre, no dia 29 de outubro: um lindo domingo de sol.
Em 1954, fui para a escola e foi um dos dias mais lindos e felizes da minha vida.
Em 1960, cursava o ginásio e tive meu primeiro amor platônico pelo meu professor. Ele era lindo e diferente de todos os outros professores.
No seu primeiro dia de aula, disse:
‒ Quem sou eu? Para onde vou?
Achei uma maravilha! O professor era muito especial, sabia pensar!
Em 1963, com o falecimento do meu pai, nossas vidas mudaram. Comecei a trabalhar muito cedo dando aulas particulares, mas em 1964 consegui meu primeiro emprego na Editora do Brasil.
Em 1974, nasceu meu primeiro filho, foi um sentimento tão grande que não há palavras que possam defini-lo.
Em 1978, estava grávida de seis meses, a criança que eu carregava morreu. Percebi que o bebê não estava se mexendo e o obstetra optou por deixar passar as festas de final de ano e só depois marcar para retirar a criança. O amadurecimento chegou.
Em 1980, na Universidade onde ministrava aulas, tive meu primeiro contato com a informática num computador IBM. Levei um susto! Achei que nunca iria conseguir entender. Fiz alguns cursos sem sucesso, mas só vim a me apropriar, aprender e gostar de informática com uma professora particular Mariza Evangelista, pois sua didática corresponde à faixa etária do aluno.
Em 1985, vim morar na Ilha da Magia: terra de mar e sol.
1989 foi um ano muito importante. Pela primeira vez votei para Presidente do Brasil.
Em 1991, veio a falecer minha mãe. Foi a maior dor que senti na vida.
Em 2010, foi o falecimento do meu marido.
De 2010 até 2017 muitas perdas e falecimentos na família, inclusive nestes seis últimos meses perdi dois irmãos.
E a vida correndo em seu cavalo de vidro.
A vida é da cor que a gente pinta.

Quem faz o dia, somos nós mesmos.
Graça.

3 comentários:

  1. Maria das Graças, bom dia.

    A vida pode ser muito bela,
    Por vezes nos traz perdas,
    Que trazem muita tristeza,
    Acordando de sonhos profundos.

    Hans

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    Respostas
    1. Caro Hans,
      Agradeço seu comentário.
      Concordo com você.
      O ser humano está em eterna construção.
      Sonhar é viver.
      Abraço

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  2. Oi Nidia,
    Viver é uma aventura fascinante.
    Conhecer pessoas é o que mais gosto.
    beijo

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