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23/3/2017
Trabalho
da Oficina de 30/3/2017 realizado por Auri Silva e Maria da Graça Louzada
Miranda: MEMÓRIAS DE SIMONE - correspondência entre Simone e Miguel.
Carta
de Miguel para Simone
São
Paulo, 30 de março de 1966.
Querida
Simone,
Desde
que cheguei à terra da garoa, onde tudo se movimenta rápido, lembro com saudade
dos amigos e de Florianópolis com suas belezas infinitas.
Minha
querida, consegui realizar meu sonho. Estou estudando na Faculdade de Direito
de São Paulo no Largo São Francisco. Você é a primeira pessoa para quem quis
dar a notícia.
Embora
feliz por ter passado no vestibular, estou custando adaptar-me nesta metrópole
de concreto. Os dias são cinza e cinza é a cor da solidão. Trouxe pouco
dinheiro e precisando me sustentar, sem conseguir trabalho, tive que sair de um
pequeno quarto por não conseguir pagar o aluguel.
Nada
é simples e fácil nesta cidade grande. Precisei dormir em albergues e algumas
vezes me escondia e dormia num canto qualquer da faculdade.
O
momento político incerto, a perseguição aos estudantes pelo regime militar,
tudo gira num clima de incertezas. Com muito pouco dinheiro recorri a todos os
tipos de trabalho, disposto a fazer qualquer coisa. Lavei louça e fiz faxinas
em restaurantes, trabalhei na cantina de uma escola, vendi cachorro quente na
Rua 25 de Março.
Tendo
muito pouco tempo para estudar, meus colegas não me acolheram na turma. Eu era
apenas o ‘Catarina’. Depois fui trabalhar num restaurante atendendo num balcão
e foi lá que comecei assistir a novela Redenção, via apresentações da Jovem
Guarda, pois trabalhava nos finais de semana também.
A
maturidade chegou.
Finalmente
consegui um emprego na Livraria Cultura, na Avenida Augusta. Estou trabalhando
com livros que é o que eu mais gosto. Recebo um salário mínimo de 84.000 mil
cruzeiros.
Em
todos os locais ouço a música ‘A Banda’ e me lembro de nós dois dançando. Na
minha folga fui assistir ao filme ‘À Sombra de um Gigante’ com Kirk Douglas e
gostaria que estivesse junto comigo.
Nunca
imaginei que sentiria tanto a sua falta. Meus sentimentos por você são
profundos e intensos.
Espero
ansioso a sua resposta, Simone.
Um
abraço carinhoso.
Miguel.
Carta
de Simone para Miguel:
Florianópolis,
30 de março de 2017.
Caro
Miguel,
Nos
primeiros dias de outono de 2017, senti uma coisa esquisita, mistura de ternura
e saudade de um tempo que foi pouco tempo.
De
repente meus olhos se perderam no infinito e meus pensamentos voltaram ao ano
de 2000 quando recebi a sua carta trinta e quatro anos depois.
Fiquei
surpresa e desapontada com a atitude de minha mãe por guardar tal
correspondência por tanto tempo, sabendo que eu esperava ansiosa notícias suas.
Tinha cinquenta anos no ano 2000, quando minha
mãe, na premência da morte, finalmente me entregou a sua carta de 1966. Li e reli a
carta esperada por tanto tempo, com as mãos trêmulas de emoção, e lembrei com
ternura a menina do antes de dezesseis anos que muito triste ficara com a sua
partida para São Paulo, e mais ainda por não receber nenhuma notícia.
Com
o passar dos anos, temos a maturidade para entender que ninguém realmente sabe
o porquê alguém faz o que faz ou diz o que diz. Que minha mãe descanse em paz.
Faz
dezessete anos que deixo de um dia para o outro para responder a carta do
querido amigo.
Imagino
todas as dificuldades que você deve ter passado nessa metrópole.
A
vida é surpreendente, gira como um carrossel e novamente alguém muito
importante para mim decide se mudar para São Paulo.
Assim
como você, meu neto de dezoito anos passou no vestibular da USP há dois anos.
Mesmo recebendo uma mesada da família, que cobre despesas de aluguel e material
da faculdade, ele precisa se sustentar. Fez de tudo para arrumar um emprego,
vivemos em outros tempos, caro Miguel, e tudo é bem mais difícil agora. Todos
os lugares que faz entrevista pede experiência, mas ele não tem. Precisou
durante muito tempo vender doces, fazer malabarismo nas sinaleiras e também
lavou pratos e trabalhou em restaurante como você.
Finalmente
nesse ano de 2017 conseguiu um emprego na própria faculdade como bolsista e
para ele é o suficiente.
Minha
mãe sempre morou comigo e adorava a novela Redenção que não acabava nunca.
Sempre
estive ligada a vida cultural de São Paulo. Em 1966, gostaria de ter ido para
São Paulo assistir ‘Morte e Vida Severina’, no Teatro da Universidade Católica
de São Paulo, grande prêmio do teatro mundial universitário.
Lembrei
muito do amigo distante, em agosto de 1966, quando os Beatles deram um concerto
em São Francisco. Nossas músicas que tanto amávamos. Ainda hoje, ao ouvir ‘A
Banda’ vejo seu rosto sorrindo para mim.
Custa-me
acreditar que receberás esta carta, talvez nem mores no mesmo endereço, quase
apagado no envelope.
Miguel
eu escrevo tudo através do computador e falo com as pessoas em tempo real em
qualquer lugar do mundo, mas não poderia perder a oportunidade de escrever uma
missiva com a minha caneta tinteiro de pena dourada.
Estamos
num momento em que vivemos a era virtual de uma sociedade líquida que os amigos
são virtuais, sentimentos e privacidade são expostos e tudo é descartável. Não
sou contra a tecnologia, pois a mesma une pessoas quando estão distantes,
concomitantemente afasta as pessoas que estão próximas.
Não
fui nem sou infeliz, mas como seriam nossas vidas se tivesse recebido a sua
carta em 1966?
Jamais
saberemos.
Miguel,
neste ano de 2017 voltei a estudar. Estou
matriculada na Oficina de Criação Literária que funciona na UFSC.
Sempre
tive a pretensão de escrever às minhas memórias, o título será ‘A Saga de
Simone’. Você será um dos personagens principais.
Grande
e afetuoso abraço da amiga de sempre.
Simone.
Carta de Apresentação. NETI. Oficina de Criação Literária
Florianópolis,
16 de março de 2017.
Professora
Edna,
Meu
nome é Maria da Graça Louzada Miranda, nasci no Congresso Eucarístico de 1948, em
Porto Alegre, no dia 29 de outubro: um lindo domingo de sol.
Em
1954, fui para a escola e foi um dos dias mais lindos e felizes da minha vida.
Em
1960, cursava o ginásio e tive meu primeiro amor platônico pelo meu professor. Ele
era lindo e diferente de todos os outros professores.
No
seu primeiro dia de aula, disse:
‒
Quem sou eu? Para onde vou?
Achei
uma maravilha! O professor era muito especial, sabia pensar!
Em
1963, com o falecimento do meu pai, nossas vidas mudaram. Comecei a trabalhar
muito cedo dando aulas particulares, mas em 1964 consegui meu primeiro emprego
na Editora do Brasil.
Em
1974, nasceu meu primeiro filho, foi um sentimento tão grande que não há
palavras que possam defini-lo.
Em
1978, estava grávida de seis meses, a criança que eu carregava morreu. Percebi
que o bebê não estava se mexendo e o obstetra optou por deixar passar as festas
de final de ano e só depois marcar para retirar a criança. O amadurecimento
chegou.
Em
1980, na Universidade onde ministrava aulas, tive meu primeiro contato com a informática
num computador IBM. Levei um susto! Achei que nunca iria conseguir entender.
Fiz alguns cursos sem sucesso, mas só vim a me apropriar, aprender e gostar de
informática com uma professora particular Mariza Evangelista, pois sua didática
corresponde à faixa etária do aluno.
Em
1985, vim morar na Ilha da Magia:
terra de mar e sol.
1989
foi um ano muito importante. Pela primeira vez votei para Presidente do Brasil.
Em
1991, veio a falecer minha mãe. Foi a maior dor que senti na vida.
Em
2010, foi o falecimento do meu marido.
De
2010 até 2017 muitas perdas e falecimentos na família, inclusive nestes seis
últimos meses perdi dois irmãos.
E
a vida correndo em seu cavalo de vidro.
A
vida é da cor que a gente pinta.
Graça.
Maria das Graças, bom dia.
ResponderExcluirA vida pode ser muito bela,
Por vezes nos traz perdas,
Que trazem muita tristeza,
Acordando de sonhos profundos.
Hans
Caro Hans,
ExcluirAgradeço seu comentário.
Concordo com você.
O ser humano está em eterna construção.
Sonhar é viver.
Abraço
Oi Nidia,
ResponderExcluirViver é uma aventura fascinante.
Conhecer pessoas é o que mais gosto.
beijo