segunda-feira, 8 de junho de 2020

Lendo Cinema I. O Jantar

O autor escreve o livro, o roteirista dá forma cinematográfica ao texto, o diretor junta os pontos e faz a “mágica”, o montador finaliza. Independente do que a equipe pretendeu, o espectador vai “ler” o filme a partir de suas referências e vivências.
Brígida de Poli

O Jantar (The Dinner) – direção: Oren Moverman- 2017
Esta é a terceira adaptação do best seller homônimo de Herman Koch para o cinema. Há uma versão holandesa (Het Dinner/2013), uma italiana (I nostri ragazzi/2014) e esta americana de 2017.

Sinopse: Dois casais se reúnem para jantar em um sofisticado restaurante. Os homens são irmãos com maneiras diferentes de olhar o mundo e carregam conflitos que vêm da infância. Um deles, Stan Lohman (Richard Gere) é um bem-sucedido candidato a governador casado pela segunda com Katelyn Lohman (Rebecca Hall) e o outro Paul Lohman(Steve Coogan) é professor, casado com Claire (Laura Linney). Entre um prato refinado e outro se fica sabendo o verdadeiro motivo do encontro: os filhos deles se envolveram em um incidente aos poucos revelado. É posto um dilema moral e surgem divergências de opinião sobre como os pais agirão para resolver o problema.

Brígida de Poli



Comentários de Edna Domenica Merola
O filme O Jantar aborda vários  problemas da sociedade contemporânea: políticas públicas em relação aos indivíduos considerados “loucos”, convivência/violência/cuidado na família, estabelecimento de limites na educação de adolescentes, exemplo de atitudes violentas dadas pelos pais aos seus filhos, adoção, racismo, “lei” do mais forte (homem, branco, rico), papel impingido à mulher de mentora da afetividade familiar e da educação dos filhos e proteção parental da imagem dos filhos.
A narrativa do jantar consiste de diálogos dos quais participam dois casais (marido e esposa) dos quais os homens são irmãos (o professor Paul Lohman e o Deputado Stan Lohman), a equipe de assessoria política do deputado e a equipe de funcionários do restaurante. 
A narrativa do jantar é permeada de flashbacks trazendo personagens ausentes, tanto apenas citados verbalmente quanto em cenas que se interpolam às do jantar.
Um crime cometido pelos filhos dos casais também é narrado de maneira intermitente.
Tal trato temporal esfacela a continuidade, de maneira que nada mais poderá ser usufruído com o prazer que lembre a  integridade ou que evoque a plenitude.
Pelo contrário, trata-se de uma narrativa que sugere a passagem do tempo líquido vivido por pessoas sem autenticidade e idoneidade (das quais se conhecem apenas as imagens politicamente corretas que almejam passar).  Esses personagens retratados são cultos, polidos, da classe média e alta. São incapazes de trocar sentimentos de amor e amizade. Mas capazes de acusar uma moradora de rua (que foi assassinada) pelo crime da pobreza.
(Qualquer semelhança dessa ficção com a realidade seria mera coincidência?).


Reminiscências  de Yara Hornke

Filhos pequenos,  8 anos, eu vindo do serviço, encontro um grupo de colegas delas mesma idade barbarizando um gato... Fico indignada, me revolto e discutindo com eles que botam fogo no rabo do gato, digo vocês já se puseram no lugar dele? , se chegasse um alienígena e fizesse isso com vocês...?

O gato fugiu atordoado com a tortura, os meninos ficaram sem graça com essa tia que estragou a brincadeira...

Quando contei para os meus filhos o que presenciara eles falaram mas mãe, todo mundo faz isso... e eu disse  - não apoio tortura...

Na cena do crime quando os garotos jogam lixo na mulher  vi a mesma expressão de prazer e divertimento  com a dor do outro que aqueles meninos expressavam  vendo o sofrimento do gato.

Na verdade era um treinamento de valentia, de coragem, de valores masculinos...? Mas talvez eu tenha contribuído para desautorizar esta prática.  Quem sabe.
Tá certo eu já matei formiga, mato baratas ...
Hoje sei que o exercício da violência pode ocorrer no comportamento do grupo, da turba que participa de um linchamento. E é comum nas situações de guerra. E aí pobres das vítimas... muitas vezes, mulheres e crianças, violentadas inclusive sexualmente, como nas práticas do Estado Islâmico ,  do Boko Haran  ou na guerra da Bósnia. Tempos de horror...
Mas vamos  ao filme:
... os personagens marcados como brancos, poderosos, Stan político destacado faz  contra ponto com Paul dado como ezquisofrênico (só podia) quando põe em dúvida  os feitos históricos de seu País e das  tantas guerras com motivação duvidosa. Quanto a Stan único a manter uma posição moralmente aceitável, não negando o crime me pareceu, no entanto, sem emoção em sua indignação quanto a esconder o crime. Na verdade, um crime deste, a sociedade americana não perdoa.  As mulheres protegendo as suas crias se apequenam, reproduzindo acriticamente o papel tradicional que a sociedade lhes impõem.
Não é um filme feminista.

Pensando no nosso Brasil, me pergunto como será que os pais dos jovens que queimaram o índio Galdino em Brasília se portaram... não na imprensa, publicamente mas de verdade no “recôndito de seus lares”...
Aqui na nossa terrinha, os crimes semelhantes dos filhos da burguesia costumam ser naturalmente encobertos e não julgados. Lembram-se da Aracelli? 
Aliás, nosso País coleciona crimes não julgados,  contra os indígenas, contra os negros escravizados...o aniquilamento de todos os que se rebelaram contra a injustiça, os crimes da ditadura e dos torturadores  e os recentes,  de Amarildo ou da Marielle Franco.
E sobre o drama, a armadilha da contradição entre o público e o privado entrelaçado com as relações e afetos familiares o filme é muito bom .
E aí me vem a memória a lembrança das mães nas filas dos presídios. Embora denunciem os trâmites da Justiça, a corrupção policial e os maus tratos, sempre falam que os erros cometidos por seus filhos tem que ser punidos e que, desgraçadamente,  eles tem que cumprir suas penas. Algumas dizem que a cadeia até tem que ser dura mesmo, pois “senão eles não apreendem.”

Comentários de Clara Amélia de Oliveira sobre alguns pontos específicos analisados sob o  ponto de vista da Complexidade
 1- O surto do professor Paul Lohman, onde ele reclama dos alunos e questiona a própria visão da história americana. Nas cenas ele parece frustrado com a indiferença e imaturidade dos alunos. Mas falta ali algo. Falta questionar a própria pedagogia tradicional (o ambiente e tipo de aula expositiva que é mostrado nas cenas. A pedagogia tradicional e que está ultrapassada, mas as escolas não pensam em mudar. Foco no conteúdo e não no desenvolvimento humano). Paul poderia (e deveria) se questionar e pensar em mudar sua própria metodologia de ensino, pois ela está sendo a fonte do problema. Digo isto porque decidi trabalhar com os alunos considerados problema, e o fiz por 12 anos, colhendo resultados que me fazem acreditar profundamente na potencialidade humana e necessidade de mudanças de método.
2- A questão do distanciamento entre pais e filhos ( coisa corriqueira hoje em dia) Há o genuíno sofrimento dos pais, que não sabem como tratar as consequências da super proteção que deram aos filhos. E parecem enredados em um redemoinho de acontecimentos que vem à tona com a divulgação de um vídeo de um assassinato. Os pais conseguem sofrer por isto, mas não conseguem enxergar a necessidade de mudanças de atitude saindo fora da lógica geral do sistema estabelecido  atual e focando em como resgatar estes filhos.
3- O caso da moral do Político Stan Lohman que resolve desistir de sua missão por ter um caso de família, até então secreto, que suja seu currículo. Este fato pontua bastante a lógica de evento isolado, onde o certo x errado  é tudo que se alcança. No caso, errado, moralmente exclui o político de seu trajeto pessoal. Neste ponto, surge outra questão, Stan não tem dúvidas sobre sua necessidade de abandonar a candidatura para governador. Mas quem é Stan, qual seu currículo e seu projeto? Ele pode estar abandonando a candidatura em favor de um outro candidato mau caráter, e, que não vai trazer uma contribuição à sociedade. Isto poderia significar uma perda grande, caso Stan seja um cara do bem e, por exemplo, seus concorrentes sejam menos adequados. Ele parece idôneo porque está colocando a moral acima das outras coisas. Mas estas outras coisas (como citei) podem afetar o contexto histórico, não apenas a questão moral pessoal.
4- E no caso do assassinato da senhora pelos jovens. Trago dúvidas pesadas para pensarmos. Analiso sob o ponto de vista Complexo, que transfere a lógica de evento para a lógica de processo. Veio-me a memória uma das histórias conhecidas de Buda onde ele com sua reflexão iluminou o assassino Angulimala e o aceitou como seu seguidor, sem julgá-lo pelo seu passado. 
História do Agulimala
 Angulimala (“homem do colar de dedos”) foi um homem que sofreu maus tratos da sociedade e decidiu se vingar. Prometeu matar mil homens, e fazer um colar com dedos de cada vítima. Ele conseguiu 999 dedos e faltava apenas um quando encontrou Buda no caminho. Ao ameaçar Buda, este na iminência de morrer pelas mãos do assassino famoso já, Angulimala, fez a ele um pedido derradeiro. Pediu a Angulimala que cortasse com sua espada afiada um galho de uma árvore próxima. Angulimala trouxe o galho para Buda. E este pediu que Angulimala recolocasse o galho na árvore novamente. Angulimala disse ser impossível. Buda então esclarece que destruir, com uma espada na mão é fácil e rápido. Mas, ao contrário, construir, é um processo muito mais trabalhoso. Neste momento Angulimala, se iluminou e percebeu que estava no caminho errado. Buda aceitou-o sem julgá-lo pelo seu passado assassino. E, Angulimala, passou a ser seguidor das idéias budistas.
Este raciocínio budista não é possível de ser absorvido dentro do sistema tradicional, pautado em evento. 
Na trama de O Jantar, houve um assassinato no passado, em data futura, os parentes (o político Stan) verá  ameaçada sua carreira.
5- Conclusão: Então, existiria uma pedagogia para pensar na reabilitação e conversão das almas humanas? Como trabalhar a pessoa para ganhar consciência, ajudá-la a seguir num caminho que é um processo onde os eventos estão interconectados e não um caminho onde ocorre uma série de eventos isolados? No caminho complexo, na verdade, a dinâmica do processo dissolve o passado dentro do princípio da incerteza, tudo pode mudar, inclusive para o bem.

Eu e Paul, Paul e eu
Eu me identifiquei bastante com o Paul. Sua insegurança e incertezas deram a ele um perfil mais humano do que os demais personagens. Associei com o personagem do Joachim Phoenix no filme Coringa.
O roteiro da história vai sendo exposto e me pegou no meu stress existencial, que está em alta, nesta quarentena. Tive sentimento de agonia ao perceber a exposição do complexo personagem Paul Lohman. Paul parece ser o anti-sistema. Mas tampouco Paul parece entender o que fazer com isto. Como agir fora deste sistema que o magoa.
O filme, ao retratar Paul, expõe o mosaico de emoções construído por uma pessoa, juntando desde os dramas não resolvidos de infância, e da sua visão adulta sobre o mundo, resultando no que somos enfim, este caos. Morin chama, esta resultante de fatores complexos, de ‘emergência’ . Na figura do Paul, percebemos como cada uma das fases da vida interferem na vida adulta, de forma subliminar. Cada fase se faz presente, de forma descontrolada, travando ou jogando uns contra os outros. 
Paul, ao questionar guerras e racismo, dispara raciocínios, alguns ambíguos, dignos de um perturbado, mas que revelam a lógica geral do sistema que influencia e para alguns, governa nossas mentes. E, nesta sociedade já com fortes indícios de caos, se revela que o louco parece ser o verdadeiro são, aquele que não deseja se submeter. E, aquele que é considerado o normal, literalmente, que está na norma, é o que segue o fluxo, sem questionar para onde está sendo levado. As reflexões do Paul são pertinentes pois abrem espaço para ser questionado. Ou seja, levanta questões que devem ser encaradas, e amadurecidas e mesmo modificadas, dentro de um processo dinâmico. 

Racismo
O filme ainda aborda as questões do racismo, da impiedade e de como a sociedade hegemônica americana, doente, faz seus cidadãos perseguirem uma trajetória de poder e dominação simbólica do sonho capitalista falido.  Como neste contexto o ser humano desaparece no vazio e os, praticamente zumbis humanos, não conseguem levantar os olhos para além de seu próprio umbigo-ego.
A cena de amor universal:
O momento resgate da alma sofrida de Paul Lohman. Este momento se traduziu na cena do amor fraternal demonstrada pelo Paul, o personagem perturbado, ao sair do jantar. Foi uma cena curta, alguns segundos. Mas, ali, por um curto momento, fez-se a paz na alma adoecida e subversiva de Paul Lohman. Relato dos fatos que precederam a única cena de luz que eu pude observar no filme. Paul, ao sair de casa, contrariado, porque não queria  ir ao jantar, no Restaurante de luxo, a convite de seu irmão Stan, chegou lá procurando ser crítico e agredindo, com palavras ácidas, o maitre do Restaurante, que fazia os protocolos de descrição das comidas, apresentando a carta de vinhos, etc. ... Porém, ao sair do jantar, o maitre, na porta de saída, educadamente estende a mão para se despedir deste cliente, Paul, e este surpreende, ao corresponder, dando-lhe um abraço afetuoso. Aquele abraço que cura feridas da alma. Porque Paul fez isto? Porque Paul, como todos nós, é potencialmente bom. Ali, foi a alma de Paul que falou por ele. Linda e emocionante cena. Comovente.
A tragédia grega:
A parte final do filme, quando Paul sai para resolver o problema com seu sobrinho Beau, adotado por seu irmão, e responsável pelo drama que resultou no jantar de negociação entre os familiares, vai tomando ares de tragédia grega. Paul, ao perder lances das conversas que tornariam desnecessário sua medida extrema de corrigir Beau, sai em busca do sobrinho, para usar o método tradicional do enfrentamento direto. A cena trágica se revela ao se ver Paul pegar uma pedra e vemos a possibilidade da tragédia acontecer.  Tudo se desenrola rápido, tudo poderia ter sido diferente. Aquele ar de tragédia grega, onde o absurdo e a impotência humana diante do mal, se apresenta diante de nós.


Comentários de Oleni Oliveira Lobo
Quando família se reúne geralmente é para fortalecer vínculos e criar intimidade. Para isto o aprofundamento das relações, o mergulhar fundo faz emergir situações conflitantes que necessitam ser afloradas.
Irmãos. pais e filhos, valores, éticas, questões fortes e aplicadas em atitudes e em suas rotinas? Uma diferença grande entre falar, fazer e mostrar.
Um simples atraso é uma falta de respeito, tanto quanto não ficar à mesa para seguir  a conversa iniciada, cujo sinônimo chamado falta de atenção, causa dor no outro.
Surgem competição e inveja, infelizmente, substituindo a cumplicidade, a parceria e o amor.
Pais que escolhem ter filhos e não assumem tal papel, apenas os têm para ganhar amor da família e sociedade e quando isto não acontece cobram do outro atitude igual. Adoção: que ato lindo! Principalmente quando a escolha é a diversidade. Triste quando é apenas pela pontuação mais forte, quando se escolhe a criança de raça e cor diferente ou com algum problema físico. Cada pai arruma uma desculpa para o conforto de confrontar a criança para educar, disciplinar e deixar despertar seu melhor, entretanto é tão mais fácil arranjar desculpas para deixar para lá e substituir tudo isto por “passar a mão na cabeça” o que aumenta e acumula os conflitos e comportamento de infelicidade dos filhos sem desenvolver sua força, sua habilidade para conviver em sociedade, respeitando o outro e sabendo distinguir o que é certo do que é errado. Qual é o limite da liberdade? Tudo tem consequências. Qualquer escolha que se faça teremos que aceitar o luto por outras tantas e isto aprendemos lidando com as frustrações de alguns nãos.
Surge o profissional que não aceita a evolução das coisas e o rematrizar-se diante do novo realizando o casamento entre a experiência e  o novo, criando algo novo. Caso contrário, só restam as críticas sem propostas: assume-se o papel do rebelde sem causa. Sua luta é pelo “deixa como está”.
 Doenças genéticas que querem deixar enterrada e caso alguém demonstre que algo está começando a surgir, negam até ficar insustentável, pois é melhor abafar do que cuidar, prevenir e buscar ajuda médica de imediata.  Ainda no comecinho quando algo pode ser feito de forma mais tranquila.
Triste decisão em brincar com a vida  de alguém sem nome , mas com certeza com uma história. Alguém que “tudo pode” mata um ser humano como se pisasse em um inseto. Infelizmente, há a crença de que é merecedor aquele que produz e que tem uma vida parecida com a nossa. Uma pena.
Uma pessoa acostumada a receber tudo, nem pensa que tenha cometido um erro e a única preocupação é sair ileso.
De repente, uma ameaça de alguém da própria família exige que a situação seja vista com justiça e todos arquem com as consequências.
Como pode fazer isto com um filho? Prisão? Tão jovem! Foi jovem ao matar? Tirar uma vida?
O que será que foi transmitido a estes filhos enquanto crianças? Chantagem é correto? Afinal a pessoa fez algo errado e se pode obter lucro através disto?
Está doente? Como ninguém percebeu?  Quanto mais próximo de alguém menos a enxergamos, é necessário um certo afastamento e querer “ver” e aproximar-se para poder envolver o outro para que aprenda algo. É fácil? Com certeza, conviver é difícil demais e entre pais e filhos muito mais! Pais querem errar? Claro que não querem dar o melhor a seus filhos, entretanto, nesta ânsia, impedem que vivam e aprendam. Sabe aquele joguinho que deixa o filho ganhar  “burlando as regras?” Teu filho está percebendo e aprendendo que pode quebrar regras e que o importante é vencer.
Muitas vezes dois irmãos conseguem sucesso na vida, um com sua vida simples e tranquila, outro com sua vida financeiramente confortável e cheia de glamour. O difícil é acreditarem que os dois tem sucesso. Infelizmente, as pessoas são guiadas a valorizar quem chega no topo financeiro, sem se importar de que forma chegaram. Muitas chegam através da luta, mas não será o dinheiro que dará felicidade. Ser amado, ter amigos de verdade, pois isto não se compra.
Uma questão muito importante nasce deste filme: pessoas vivem sem ideais, metas e objetivos? Porque seriam importantes?
Filme forte e muito bom para reflexão.



COMENTANDO OS COMENTÁRIOS
                               Brígida de Poli
O filme é o mesmo, mas como previsto cada uma de vocês usou uma abordagem diferente. Obviamente, percebemos a obra alheia a partir das nossas experiências e visão de mundo. Mas todas as análises foram muito interessantes !
Várias coisas interferem na análise de um filme. A maior bilheteria de todos os tempos, “E o vento levou” (Victor Fleming), está na meio de uma polêmica 80 depois de seu lançamento. O filme favorito de várias gerações, premiado com oito Oscars, é visto agora como extremamente racista. Juntando-se aos protestos contra o racismo nos EUA, espectadores forçaram a retirada de “E o vento levou” da plataforma da HBO. Passaram-se décadas até nossa “ficha cair”. Além da trama em si estar sendo contestada, o filme fez história por dar o primeiro Oscar a um intérprete negro, a coadjuvante Harriet McDaniel. A abnegada empregada de Scarlett O´Hara  era o retrato da subserviência aos patrões brancos. Pra piorar, Harriet foi proibida de entrar no teatro onde haveria a premiação por causa da cor da pele. Depois de Oscar, ela nunca mais conseguiu bons papéis. Moral da história: como as pessoas interpretarão os pais de “O Jantar” daqui a 80 anos?
Voltando ao nosso filme: somos colocados diante do dilema de “como agiríamos se fossem os NOSSOS filhos”. Nosso discurso sobre o certo e o errado se sustenta na prática? Confesso: não os tenho, mas quando cogito a respeito, acho que os protegeria.
A versão italiana de “O Jantar” ( I nostro ragazzi/2014) traz um aspecto diferente do que assistimos agora. O casal rico quer proteger os próprios filhos e o irmão questionador acha que eles devem ser punidos. Tudo muda quando ele e a esposa descobrem que os filhos que realmente cometeram o crime eram os dele. Aí eles se colocam contra o castigo e chegam a provocar um acidente de carro com o irmão/cunhada.
Bem, poderíamos encontrar novos vieses cada vez que revíssemos “O Jantar”. Parabéns a todas pela profundidade da análise. Vamos ao próximo ???
Brígida De Poli - jornalista, cronista, cinéfila, colunista do Portal Making Of  http://portalmakingof.com.br/cine-e-series . Simpatizante e voluntária em prol dos direitos e do bem-estar de refugiados. Idealizadora e mediadora do Lendo Cinema, autora do livro As Mulheres de Minha Vida, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-mulheres-da-minha-vida/

2 comentários:

  1. Estou gostando de ler a análise de vocês sobre o conteúdo de "O Jantar".
    Brígida

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  2. Parabéns essa página está simplesmente maravilhosa

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