A
SOCIEDADE LITERÁRIA E A TORTA DE CASCA DE BATATA
–
Direção: Mike Newell (2017)
A
história se passa em 1946, fase em que Inglaterra tenta se reerguer
após o fim da II Guerra Mundial. A escritora Juliet Ashton decide
visitar Guernsey - uma das Ilhas do Canal invadidas pela Alemanha
durante o conflito -depois de receber a carta de um fazendeiro
contando sobre como um clube do livro local foi fundado durante
a guerra. Após ouvir suas histórias e estreitar laços com os moradores
da Ilha, Juliet decide escrever um livro sobre o que eles viveram
sob o domínio dos nazistas. Essa experiência muda também
a vida da própria escritora.
O
filme é delicado, sem muitas cenas de batalha ou sangue, e cada espectador
destacará o que mais lhe toca. Para mim, o ponto alto da
história é mostrar a amizade e a arte ( a literatura) como base de sobrevivência
emocional para seres humanos em desespero.
Quem
acompanhou “Downton Abbey” vai reconhecer vários atores da
série no elenco de “A Sociedade Literária e a torta de casca de batata”,
a começar pela protagonista, Lily James.
Para
quem se interessar em ler: o filme se baseia no livro de Annie Barrows
– Shaffer e Mary Ann Shaffer, da editora Rocco.
(Brígida De Poli)
A vitória do romance como resistência por Yara Hornke
No filme, a vitória do romance, espelha a
resistência à investida do capitalista americano, com sua ostentação expressa
no anel tão caro que não se podia usar.... e no avião fretado com que ele chega
para buscar nossa heroína e que contrasta com a simplicidade da comunidade.
Comentários de Clara Amélia sobre o filme: Guernsey Sociedade Literária e a Torta de Casca
de Batata
Se os livros tem o poder de unir pessoas, que este
faça a sua magia. (Frase
ouvida no filme).
A magia dos livros
é verdadeira, e cada livro que chega nas nossas mãos representa esta magia.
Porque um certo livro e não outro qualquer chegou até nossas mãos? Seria uma
sincronicidade, como definiu Jung, para coisas improváveis, mas resultantes de
uma considerada coincidência? Ah esta magia...
O filme justamente
trata de uma reunião de pessoas em torno da leitura de livros. O filme emociona
pela carga de humanidade que sua narrativa cênica traz, indo mais além do que mostrar os bons e
os maus, os algozes e as vítimas. O filme mostra o ser humano vivendo e amando por
baixo dos panos do poder dominante. A amizade que surge entre o soldado nazista
alemão, veterinário, e o jovem fazendeiro inglês. A paixão que nasce entre o
soldado alemão e a jovem inglesa Elisabeth.
Numa época de guerra e dominação,
uma mulher se revela em defesa dos mais fracos e é presa e deportada. O alemão
denunciado, por seu relacionamento proibido, é transferido do local. E neste
jogo, em baixo dos panos, surge também a figura dos traidores. Traidores,
covardes que são igualmente explorados pelo poder dominante, mas acreditam nas
normas que este mesmo poder explorador criou. Assim a traição denunciando um
caso genuíno de amor. E, a traição à memória de Elisabeth, expressa sob o manto
do moralismo, denegrindo sua pessoa por ter tido a coragem de amar sem preconceito.
A figura de
Elisabeth, mesmo sem aparecer muito no filme, se destaca por suas posições
firmes e sua coragem.
Uma questão ética
apareceu para pensarmos. As pessoas do grupo decidiram que não iria ser
comunicado à família alemã da menina Kit, filha de Elisabeth com o soldado
alemão, a sua existência. Não fica claro se a mãe da menina não tinha parentes.
Será que isto foi o mais correto?
Como Brígida de Poli escreveu acima, o filme baseia-se num livro homônimo. O filme descreve a vida das pessoas nas terras ilhoas de Guernsey.
O escritor Victor Hugo, em sua obra Os
Trabalhadores do Mar descreveu a vida dos marítimos desta ilha. Exatamente nesta ilha de
Guernsey viveu em exílio este escritor francês. E me impressionei quando soube,
em sua biografia, que ele se banhava diariamente nas águas mostradas no
filme, durante o ano todo, com seus mais de oitenta anos. Ilha, águas, terra,
magia. O filme me trouxe o livro. O livro foi ilustrado no filme. Pura magia.
Identificações. Edna Domenica Merola
Faz
tempo que assisti ao filme A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata.
Revi por sugestão da Brígida de Poli, com foco na proposta por ela idealizada:
Lendo Cinema. O filme é lindo. Adoro os filmes ambientados nos anos 1940 (
juventude dos meus pais).
Como
Juliet Ashton, a protagonista, "sou leitora, mas também escritora".
Como ela também saí de um grande centro urbano para morar numa ilha: talvez um
refúgio necessário para mergulhar na escrita.
O
falso moralismo é repudiado pela protagonista Juliet, também me identifico com
essa postura. Ela se coloca contra o casamento vitoriano. Endossa a luta
feminista, sem no entanto ser militante no sentido arrivista da palavra.
O
filme retrata o período pós guerra numa ilha do canal da Mancha e (em flash
back) a invasão nazista (durante a segunda guerra do século XX), após o
ataque aéreo. Churchill, antes do ataque, havia retirado, na surdina, o maior
número possível de habitantes, principalmente as crianças de sexo masculino que
foram levados para o território continental.
Segundo
o filme, a Organização Todt prestava serviços às custas do trabalho
escravo de poloneses e russos. Empregava um pequeno número de conselheiros técnicos
e engenheiros e muita mão de obra escrava. É registro histórico que a OT
foi um grupo paramilitar de construção e engenharia criado na Alemanha, durante
os anos do Terceiro Reich, por Fritz Todt, Ministro do Armamento e Munições do
Reich.
A
escritora Juliet Ashton fica noiva de um militar americano, em Londres. Mas
resolve visitar uma sociedade literária e na convivência com os participantes
do grupo conhece a história de vida deles. Quer publicar a história do grupo no The Times, mas o grupo não autoriza, sugerindo uma postura anti
imperialismo estadunidense, tema que é bem oportuno retomar, no momento.
Elisabeth
Anne Mckenna é presa pelos nazistas por se rebelar. Deixa a filha Kit com três
anos de idade com um amigo. Juliet Ashton se sensibiliza e se identifica com
Kit e os demais solitários do grupo literário e acaba se apaixonando por um
deles.
O
filme apresenta o diferencial de mostrar apenas algumas cenas de sangue
(ambientadas no hospital e não no campo de batalha). Pode-se talvez classificá-lo
como romance histórico e drama, no entanto, dado o aproveitamento fotográfico
da deslumbrante paisagem da ilha, pode até funcionar como marketing de turismo
para as ilhas do canal da Mancha. O enredo, a construção dos personagens, o figurino, a fotografia, o uso do flash back e as belas paisagens resultam em entretenimento e cultura, ficção e realidade nas doses necessárias para agradar o público cinéfilo.
Comentários. Clara Pelaez Alvarez
Belíssima narrativa sobre coisas simples e pessoas comuns.
As pessoas são comuns até que alguém conte suas histórias, aí se tornam extraordinárias. Escritores pinçam heróis anônimos na multidão e os tornam imortais. Quem continua comum não teve a sorte (ou o azar) de encontrar um bardo.
Existem escolhas que provocam enormes mudanças nas nossas vidas e existem escolhas que afetam apenas o minuto seguinte. Caminhos cheios de encruzilhadas e opções definitivas. O cérebro humano absorve uma enorme quantidade de informações, o consciente tem acesso a apenas uma pequena quantidade delas. Quando estamos numa transição de fase quem, ou o que, faz a escolha?
Misteriosos pequenos instantes em que tudo muda. Tudo se entrelaça: as partículas subatômicas, as narrativas, você, eu e o mundo todo.
Brígida de Poli é jornalista, cronista, cinéfila, colunista do Portal Making Of http://portalmakingof.com.br/cine-e-series . Simpatizante e voluntária em prol dos direitos e do bem-estar de refugiados. Idealizadora e mediadora do Lendo Cinema, autora do livro As Mulheres de Minha Vida, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-mulheres-da-minha-vida/
Clara Amélia de Oliveira é engenheira,
professora aposentada da UFSC .
Clara Pelaez Alvarez é
pesquisadora da ciência das redes.
Edna Domenica Merola, pedagoga e
psicóloga, mestre em Educação e Comunicação, participa de Lendo Cinema );
de Textos Curtos da Biblioteca do CIC (com Gilberto Motta e
Esni Soares); das aulas sobre música popular brasileira ministradas por Alberto
Gonçalves. Autora do livro As Marias de San Gennaro, Coleção
Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-marias-de-san-gennaro/.
Yara Hornke, psicóloga, trabalha
em prol dos direitos e do bem-estar de presidiários (1)
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cinema II
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