domingo, 5 de julho de 2020

Lendo Cinema V

A SOCIEDADE LITERÁRIA E A TORTA DE CASCA DE BATATA
– Direção: Mike Newell (2017)
 A história se passa em 1946, fase em que Inglaterra tenta se reerguer após o fim da II Guerra Mundial. A escritora Juliet Ashton decide visitar Guernsey - uma das Ilhas do Canal invadidas pela Alemanha durante o conflito -depois de receber a carta de um fazendeiro contando sobre como um clube do livro local foi fundado durante a guerra. Após ouvir suas histórias e estreitar laços com os moradores da Ilha, Juliet decide escrever um livro sobre o que eles viveram sob o domínio dos nazistas. Essa experiência muda também a vida da própria escritora.
O filme é delicado, sem muitas cenas de batalha ou sangue, e cada espectador destacará o que mais lhe toca. Para mim, o ponto alto da história é mostrar a amizade e a arte ( a literatura) como base de sobrevivência emocional para seres humanos em desespero.
Quem acompanhou “Downton Abbey” vai reconhecer vários atores da série no elenco de “A Sociedade Literária e a torta de casca de batata”, a começar pela protagonista, Lily James.
Para quem se interessar em ler: o filme se baseia no livro de Annie Barrows – Shaffer e Mary Ann Shaffer, da editora Rocco. 
(Brígida De Poli)

A vitória do romance como resistência por Yara Hornke
No filme, a vitória do romance, espelha a resistência à investida do capitalista americano, com sua ostentação expressa no anel tão caro que não se podia usar.... e no avião fretado com que ele chega para buscar nossa heroína e que contrasta com a simplicidade da comunidade. 

Comentários de Clara Amélia sobre o filme: Guernsey Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata 
                    Se os livros tem o poder de unir pessoas, que este faça a sua magia.                                                                                                         (Frase ouvida no filme).

A magia dos livros é verdadeira, e cada livro que chega nas nossas mãos representa esta magia. Porque um certo livro e não outro qualquer chegou até nossas mãos? Seria uma sincronicidade, como definiu Jung, para coisas improváveis, mas resultantes de uma considerada coincidência? Ah esta magia...
O filme justamente trata de uma reunião de pessoas em torno da leitura de livros. O filme emociona pela carga de humanidade que sua narrativa cênica  traz, indo mais além do que mostrar os bons e os maus, os algozes e as vítimas. O filme mostra o ser humano vivendo e amando por baixo dos panos do poder dominante. A amizade que surge entre o soldado nazista alemão, veterinário, e o jovem fazendeiro inglês. A paixão que nasce entre o soldado alemão e a jovem inglesa Elisabeth. 
Numa época de guerra e dominação, uma mulher se revela em defesa dos mais fracos e é presa e deportada. O alemão denunciado, por seu relacionamento proibido, é transferido do local. E neste jogo, em baixo dos panos, surge também a figura dos traidores. Traidores, covardes que são igualmente explorados pelo poder dominante, mas acreditam nas normas que este mesmo poder explorador criou. Assim a traição denunciando um caso genuíno de amor. E, a traição à memória de Elisabeth, expressa sob o manto do moralismo, denegrindo sua pessoa por ter tido a coragem de amar sem preconceito.
A figura de Elisabeth, mesmo sem aparecer muito no filme, se destaca por suas posições firmes e sua coragem.
Uma questão ética apareceu para pensarmos. As pessoas do grupo decidiram que não iria ser comunicado à família alemã da menina Kit, filha de Elisabeth com o soldado alemão, a sua existência. Não fica claro se a mãe da menina não tinha parentes. Será que isto foi o mais correto?
Como Brígida de Poli escreveu acima, o filme baseia-se num livro homônimo. O filme descreve a vida das pessoas nas terras ilhoas de Guernsey. 
O escritor Victor Hugo, em sua obra Os Trabalhadores do Mar descreveu a vida dos marítimos desta ilha. Exatamente nesta ilha de Guernsey viveu em exílio este escritor francês. E me impressionei quando soube, em sua biografia, que ele se banhava diariamente nas águas mostradas no filme, durante o ano todo, com seus mais de oitenta anos. Ilha, águas, terra, magia. O filme me trouxe o livro. O livro foi ilustrado no filme. Pura magia.

Identificações. Edna Domenica Merola

Faz tempo que assisti ao filme A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata. Revi por sugestão da Brígida de Poli, com foco na proposta por ela idealizada: Lendo Cinema. O filme é lindo. Adoro os filmes ambientados nos anos 1940 ( juventude dos meus pais).
Como Juliet Ashton, a protagonista, "sou leitora, mas também escritora". Como ela também saí de um grande centro urbano para morar numa ilha: talvez um refúgio necessário para mergulhar na escrita.
O falso moralismo é repudiado pela protagonista Juliet, também me identifico com essa postura. Ela se coloca contra o casamento vitoriano. Endossa a luta feminista, sem no entanto ser militante no sentido arrivista da palavra.
O filme retrata o período pós guerra numa ilha do canal da Mancha e (em flash back) a invasão nazista (durante a segunda guerra do século XX), após o ataque aéreo. Churchill, antes do ataque, havia retirado, na surdina, o maior número possível de habitantes, principalmente as crianças de sexo masculino que foram levados para o território continental.
Segundo o filme, a Organização Todt prestava serviços às custas do trabalho escravo de poloneses e russos. Empregava um pequeno número de conselheiros técnicos e engenheiros e muita mão de obra escrava. É registro histórico que a OT foi um grupo paramilitar de construção e engenharia criado na Alemanha, durante os anos do Terceiro Reich, por Fritz Todt, Ministro do Armamento e Munições do Reich.
A escritora Juliet Ashton fica noiva de um militar americano, em Londres. Mas resolve visitar uma sociedade literária e na convivência com os participantes do grupo conhece a história de vida deles. Quer publicar a história do grupo no The Times, mas o grupo não autoriza, sugerindo uma postura anti imperialismo estadunidense, tema que é bem oportuno retomar, no momento.
Elisabeth Anne Mckenna é presa pelos nazistas por se rebelar. Deixa a filha Kit com três anos de idade com um amigo. Juliet Ashton se sensibiliza e se identifica com Kit e os demais solitários do grupo literário e acaba se apaixonando por um deles.
O filme apresenta o diferencial de mostrar apenas algumas cenas de sangue (ambientadas no hospital e não no campo de batalha). Pode-se talvez classificá-lo como romance histórico e drama, no entanto, dado o aproveitamento fotográfico da deslumbrante paisagem da ilha, pode até funcionar como marketing de turismo para as ilhas do canal da Mancha. O enredo, a construção dos personagens, o figurino, a fotografia, o uso do flash back e as belas paisagens resultam em entretenimento e cultura, ficção e realidade nas doses necessárias para agradar o público cinéfilo.

Comentários. Clara Pelaez Alvarez
Belíssima narrativa sobre coisas simples e pessoas comuns.
As pessoas são comuns até que alguém conte suas histórias, aí se tornam extraordinárias. Escritores pinçam heróis anônimos na multidão e os tornam imortais. Quem continua comum não teve a sorte (ou o azar) de encontrar um bardo.
Existem escolhas que provocam enormes mudanças nas nossas vidas e existem escolhas que afetam apenas o minuto seguinte. Caminhos cheios de encruzilhadas e opções definitivas. O cérebro humano absorve uma enorme quantidade de informações, o consciente tem acesso a apenas uma pequena quantidade delas. Quando estamos numa transição de fase quem, ou o que, faz a escolha?
Misteriosos pequenos instantes em que tudo muda. Tudo se entrelaça: as partículas subatômicas, as narrativas, você, eu e o mundo todo.


Brígida de Poli é jornalista, cronista, cinéfila, colunista do Portal Making Of  http://portalmakingof.com.br/cine-e-series . Simpatizante e voluntária em prol dos direitos e do bem-estar de refugiados. Idealizadora e mediadora do Lendo Cinema, autora do livro As Mulheres de Minha Vida, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-mulheres-da-minha-vida/
Clara Amélia de Oliveira é engenheira, professora aposentada da UFSC . 
Clara Pelaez Alvarez  é pesquisadora da ciência das redes.
Edna Domenica Merola, pedagoga e psicóloga, mestre em Educação e Comunicação, participa de Lendo Cinema ); de Textos Curtos da Biblioteca do CIC (com Gilberto Motta e Esni Soares); das aulas sobre música popular brasileira ministradas por Alberto Gonçalves. Autora do livro As Marias de San Gennaro, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-marias-de-san-gennaro/
Yara Hornke, psicóloga, trabalha em prol dos direitos e do bem-estar de presidiários (1)


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Lendo cinema IV

Lendo cinema III

Lendo cinema II

Lendo cinema I

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