Sobre outros trabalhos do professor Alberto Gonçalves nas Oficinas de Criação Literária do NETI, vide o link:
http://netiativo.blogspot.com.br/2014/08/musica-poesia-edna-domenica-merola.html
Aula de 5/5/2016
‒ ministrada pelo professor Alberto Gonçalves
‒ Tema: Memória & Música Cantada.
Ilustrou-se com:
Samba de uma nota só: composição de Antonio Carlos JOBIM e Newton MENDONÇA. E cuja gravação mais famosa, no Brasil, foi com João Gilberto, em 1960.
Alegria, Alegria: de Caetano VELOSO.
O Bêbado e a Equilibrista: de João BOSCO e Aldir BLANC.
Décadas referidas: sessenta e setenta do século XX.
Ao ministrar aula no projeto de extensão universitária da UFSC aberto para pessoas maiores de 50 anos, deparamo-nos com a questão da memória. Esse item se torna mais importante ainda no contexto das Oficinas de Escrita Criativa. A clientela ao inscrever-se em tal curso almeja aprimorar instrumentos de expressão em geral, mas em alguns casos há o desejo de publicar uma autobiografia. No entanto, a docência da escrita criativa impinge-se a tarefa de ensinar a trazer o novo para o lugar do velho. Seriam docente e alunos dois veículos andando em direções opostas numa única via?
Valeu-nos em tal impasse as explicações dadas pela professora Jeanne Marie Gagnebin. Para ela, a memória é paradoxal posto que é ativa e passiva. A memória é uma instância ativa já que querer lembrar é algo ligado ao aprendizado. E como instância afetiva é passiva e só pode ser acessada por imagens (tipo de registro que antecede à aquisição da linguagem).
Na aprendizagem, uma vez formado o hábito, o indivíduo não tem mais
que se esforçar para lembrar; a memória passa a ser espontânea. O que garante a fidelidade das imagens
mnêmicas? Platão explica pela "tábua de cera e a escrita". A cera dura quebra. Se o rastro é fraco
não adianta a cera ser boa.
A memória é ligada ao presente. Dependendo do momento
que lembramos, lembramos diferente. A
memória reenvia ao passado, mas também ao presente daquele que lembra. A memória é lembrar-se de si mesmo: é identidade.
A construção da história e da identidade é ligada à narração. A identidade se
altera conforme as diferentes narrações que faz sobre si mesma. Mesmo quando a
pessoa que toma a palavra é a mesma, mas a enunciação é outra (depois de 20 ou
30 anos).
A
memória afetiva é peculiar do nascimento até os dois anos. Essa 'memória' (dependente dos sentidos) é forte porque não pode ser transformada em
lembranças. Sentimentos primeiros (não verbalizados) são lembrados pelo medo,
pelo cheiro, pelo gosto e retidos em imagens.
Sem
o convívio social a criança não aprende a se expressar, já que a defesa vem da
aprendizagem na célula familiar e não do instinto.
A
memória coletiva vem de um polo narrador ou de vários narradores e não de um
enunciador individual ou de um narrador.
Para Ricoeur, há dialética entre lembrar do presente e lembrar do passado.
A obra de Platão ‒ Diálogos ‒ tem influência da oralidade. A escrita é relativizada. O mito inventado por Platão é supostamente egípcio. A escrita é droga (veneno e remédio) para o esquecimento. O jovem acha que é veneno e o velho acha que é remédio.
Autobiografia é uma narrativa auto idealizada. O narrador escolhe quais são as lembranças que vai recusar e quais vai lembrar. Rejeita-se determinados documentos ou não, conforme o desejo próprio. Isso complica a questão da verdade.
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, em 25/01/1927, e faleceu em Nova Iorque, em 08/12/1994). Tom Jobim, foi compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. Tom Jobim compôs o Samba de uma nota só que foi composto em 1959 e lançado em 1962.
Samba de uma Nota Só. Tom Jobim.
Eis aqui este sambinha feito numa nota só.
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
Esta outra é consequência do que acabo de dizer.
Como eu sou a consequência inevitável de você.
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota como eu volto pra você.
Vou contar com uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só.
Alegria, Alegria. Caetano Veloso.
Caminhando
contra o vento
Sem
lenço e sem documento
No
sol de quase dezembro
Eu
vou
O
sol se reparte em crimes
Espaçonaves,
guerrilhas
Em
cardinales bonitas
Eu
vou
Em
caras de presidentes
Em
grandes beijos de amor
Em
dentes, pernas, bandeiras
Bomba
e Brigitte Bardot
O
sol nas bancas de revista
Me
enche de alegria e preguiça
Quem
lê tanta notícia
Eu
vou
Por
entre fotos e nomes
Os
olhos cheios de cores
O
peito cheio de amores vãos
Eu
vou
Por
que não, por que não
Ela
pensa em casamento
E
eu nunca mais fui à escola
Sem
lenço e sem documento
Eu
vou
Eu
tomo uma Coca-Cola
Ela
pensa em casamento
E
uma canção me consola
Eu
vou
Por
entre fotos e nomes
Sem
livros e sem fuzil
Sem
fome, sem telefone
No
coração do Brasil
Ela
nem sabe até pensei
Em
cantar na televisão
O
sol é tão bonito
Eu
vou
Sem
lenço, sem documento
Nada
no bolso ou nas mãos
Eu
quero seguir vivendo, amor
Eu
vou
Por
que não, por que não? (3X)
O Bêbado e a Equilibrista é
uma composição da dupla João Bosco e Aldir Blanc que ficou conhecida pela
interpretação de Elis Regina.
Na memória coletiva brasileira, a música O Bêbado e a Equilibrista remete ao
movimento pró “Diretas Já” e pela anistia política – do final da década de 70
do séc. XX.
Caía
a tarde feito um viaduto
E
um bêbado trajando luto
Me
lembrou Carlitos...
A
lua
Tal
qual a dona do bordel
Pedia
a cada estrela fria
Um
brilho de aluguel
E
nuvens!
Lá
no mata-borrão do céu
Chupavam
manchas torturadas
Que
sufoco!
Louco!
O
bêbado com chapéu-coco
Fazia
irreverências mil
Pra
noite do Brasil.
Meu
Brasil!...
Que
sonha com a volta
Do
irmão do Henfil.
Com
tanta gente que partiu
Num
rabo de foguete
Chora!
A
nossa Pátria
Mãe
gentil
Choram
Marias
E
Clarices
No
solo do Brasil...
Mas
sei, que uma dor
Assim
pungente
Não
há de ser inutilmente
A
esperança...
Dança
na corda bamba
De
sombrinha
E
em cada passo
Dessa
linha
Pode
se machucar...
Azar!
A
esperança equilibrista
Sabe
que o show
De
todo artista
Tem
que continuar...
REFERÊNCIAS
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Entrevista UNICAMP. Disponível
em
https://youtu.be/b_v0-t2vnWY
GONÇALVES, Alberto. http://admusicaalberto. blogspot.com.br/
JOBIM, A. C. B. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0vSgcN8aCZ4
MEROLA, E. D. O Bêbado e a Equilibrista. Disponível em
O jornalista e escritor brasileiro Henfil (Henrique
de Souza Filho) nasceu em Ribeirão das Neves, em 5/2/1944 e faleceu no Rio de
Janeiro, em 4/1/1988). O quadrinista e cartunista Henfil
criou o universo discursivo dos polêmicos personagens
“Fradins”: construiu uma “crítica política e de costumes que colocou em xeque,
por um lado, o cristianismo oficioso das elites políticas e religiosas e, por
outro, os simulacros sociais. No caso em questão não se trata apenas da crítica
à devoção, mas especificamente a devoção ao poder. Defendo a premissa de que
por intermédio do grotesco e do fantástico, em conjunto com a ironia e a
carnavalização, Henfil desmistificou as deidades políticas e religiosas,
substituindo-as pela dúvida e colocando-as lado a lado com o ridículo. Deste
modo, o humor henfiliano representou um esforço de resistência, ao mesmo tempo
em que contribuiu para a luta política contra a ditadura militar.” (PIRES,
2006).
REFERÊNCIAS
BLANC, A. e BOSCO, J. O Bêbado e a Equilibrista. Disponível em
https://www.letras.mus.br/elis-regina/45679/
https://www.letras.mus.br/elis-regina/45679/
https://youtu.be/b_v0-t2vnWY
GONÇALVES, Alberto. http://admusicaalberto.
JOBIM, A. C. B. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0vSgcN8aCZ4
MEROLA, E. D. O Bêbado e a Equilibrista. Disponível em
PIRES, Maria da Conceição Francisca. Cultura e
Política nos Quadrinhos de Henfil. História, São Paulo, v. 25, n. 2 p. 94-114,
2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v25n2/04.pdf
RICOEUR,
P. A memória, a história, o esquecimento. Trad. bras. Alain François. Ed. UNICAMP,
2008.
VELOSO, C. Alegria, alegria. Disponível em https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/43867/
ADENDO I - Tarefa
Tendo por objetivo incentivar a ESCRITA POÉTICA pela via da audição de músicas cantadas, recomendamos por tarefa – seguir os passos:
1 - Ler a letra das músicas:
Samba de uma Nota Só. Tom Jobim e
https://www.youtube.com/watch?v=0vSgcN8aCZ4
Alegria, Alegria. Caetano Veloso.
https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/43867/
O Bêbado e a Equilibrista
https://www.letras.mus.br/elis-regina/45679/
2 - Escolher os versos mais significativos para você neste momento.
Lembrete: cada verso é uma linha do poema ou letra da música.
3- Reunir os versos escolhidos das 3 letras e organize-os dando-lhes um sentido.
4- Compartilhar sua colagem poética.
ADENDO II - Textos Ilustrativos
A partir da audição de músicas escolhidas por alunos da turma 2016.1., construímos dois textos ilustrativos, a saber: "Num pedacinho de terra que um dia enfim, descolorirá" e "Construção".
As escolhas de audição musical feitas por Adalgisa, Arlete, Carmem, Cleide, Mara Lúcia, Maria Antonia, Maria Juçara, Terezinha e Vânio foram tomadas por matéria prima da construção de um texto em versos (citados) de autoria da professora. Trata-se de diálogo entre a audição musical como composição antiga e alheia e a composição autoral como exercício cognitivo semelhante ao do quebra-cabeça. Para ler, acesse o link:
http://aquecendoaescrita.blogspot.com.br/2016/04/num-pedacinho-de-terra-que-um-dia-enfim.html
As escolhas de audição musical feitas por Maria Inês, Dulcirene, Edna Luiza, Marlene, Neide, Vera Lúcia, Janis, Dulce e Álvaro Frazão foram narradas no pequeno texto redigido pela professora Edna.
http://aquecendoaescrita.blogspot.com.br/2016/05/construcao-edna-domenica-merola.html
VELOSO, C. Alegria, alegria. Disponível em https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/43867/
ADENDO I - Tarefa
Tendo por objetivo incentivar a ESCRITA POÉTICA pela via da audição de músicas cantadas, recomendamos por tarefa – seguir os passos:
1 - Ler a letra das músicas:
Samba de uma Nota Só. Tom Jobim e
https://www.youtube.com/watch?v=0vSgcN8aCZ4
Alegria, Alegria. Caetano Veloso.
https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/43867/
O Bêbado e a Equilibrista
https://www.letras.mus.br/elis-regina/45679/
2 - Escolher os versos mais significativos para você neste momento.
Lembrete: cada verso é uma linha do poema ou letra da música.
3- Reunir os versos escolhidos das 3 letras e organize-os dando-lhes um sentido.
4- Compartilhar sua colagem poética.
ADENDO II - Textos Ilustrativos
A partir da audição de músicas escolhidas por alunos da turma 2016.1., construímos dois textos ilustrativos, a saber: "Num pedacinho de terra que um dia enfim, descolorirá" e "Construção".
As escolhas de audição musical feitas por Adalgisa, Arlete, Carmem, Cleide, Mara Lúcia, Maria Antonia, Maria Juçara, Terezinha e Vânio foram tomadas por matéria prima da construção de um texto em versos (citados) de autoria da professora. Trata-se de diálogo entre a audição musical como composição antiga e alheia e a composição autoral como exercício cognitivo semelhante ao do quebra-cabeça. Para ler, acesse o link:
http://aquecendoaescrita.blogspot.com.br/2016/04/num-pedacinho-de-terra-que-um-dia-enfim.html
As escolhas de audição musical feitas por Maria Inês, Dulcirene, Edna Luiza, Marlene, Neide, Vera Lúcia, Janis, Dulce e Álvaro Frazão foram narradas no pequeno texto redigido pela professora Edna.
http://aquecendoaescrita.blogspot.com.br/2016/05/construcao-edna-domenica-merola.html
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