Porto Interrogativo, 3 de julho de 2015.
Cara professora,
É verdade que quem conta um conto aumenta um ponto?
É verdade que quem conta um conto aumenta um ponto?
A
Sonhadora.
Cara Sonhadora,
Segundo Huizinga (2000), as funções da
linguagem são as de “comunicar, ensinar e comandar”.
Reconhecer tais funções implica em pensar
que a escrita é representação da realidade pelo viés da ‘voz’ do narrador, quer
seja ele um historiador contemporâneo ou um cronista pretérito diretamente
subordinado a um poderoso rei.
A representação da realidade é
cristalizada pela escrita. No entanto, a escrita literária não se obriga a
estabelecer contrato de fidelidade com a realidade compactuada.
Narrar é inventar (iludir), já que a
narrativa ficcional “privilegia apenas um ou dois pontos de vista a partir dos
quais a história pode ser contada e concentra-se no modo como os acontecimentos
afetam esses pontos de vista.” (LODGE, 2011, p 36).
Para ilustrar, o impacto que o ponto de
vista tem sobre a narrativa, exemplifica-se pelo “efeito Rashomon”.
O filme Rashomon,
dirigido por Akira Kurosawa, apresenta o Japão do século XI. Durante uma forte
tempestade, um lenhador, um sacerdote e um camponês encontram abrigo nas ruínas
de Rashomon. O sacerdote
conta detalhes de um julgamento que testemunhou: trata-se do estupro de Masako
e do assassinato do samurai Takehiro, marido dela. O julgamento do bandido Tajomaru é mostrado em flashback. Há quatro
testemunhos. Cada relato mostra um ponto de vista único e conflitante com os
demais. A tese implícita no filme é a de que cada narrador apresenta sua
verdade sobre a mesma história. A expressão: “efeito Rashomon” quer dizer que nunca
há uma mesma história; se houver diferentes narradores, o que há é uma
suposição de uma mesma história.
Abraço, da Professora.
Porto Interrogativo, 3 de julho de 2015.
Cara professora,
Qual é a qualidade de escrita esperada em suas oficinas? É necessário pesquisar para escrever? E quanto aos aspectos formais?
Qual é a qualidade de escrita esperada em suas oficinas? É necessário pesquisar para escrever? E quanto aos aspectos formais?
A Aluna.
Florianópolis,
09 de maio de 2016.
Cara aluna,
Se
você é do tipo que detém bom conhecimento de determinado assunto, poderá
colocá-lo em sua narrativa. Imagine que seu leitor é inteligente, curioso e
receptivo, mas não um intelectual.
Se
você tem medo de errar, liberte-se dele. Conscientize-se do que pode
alcançar.
Se
estiver insegura quanto à adequação do que aprendeu no passado, talvez queira
algumas dicas:
‒Escreva períodos curtos e parágrafos com poucos períodos.
‒Escreva períodos curtos e parágrafos com poucos períodos.
‒Os
períodos e parágrafos pequenos devem ser iniciados com o sujeito da oração para
ajudar na clareza e concisão da narrativa.
‒Para
aprender a criar personagens, deve escrever sobre a vida humana e não sobre a
própria vida.
Para uma iniciante, escrever autobiografia é como querer aprender a correr, antes de engatinhar. O narrador em primeira pessoa é um personagem e deve ser 'inventado'. Una lembranças a dados estatísticos. Ex.: Na sua infância, os brinquedos de vinil eram raros e os eletrônicos inexistentes? Como isso acontece no presente? Narre algum fato interessante sobre brincadeiras.
Para uma iniciante, escrever autobiografia é como querer aprender a correr, antes de engatinhar. O narrador em primeira pessoa é um personagem e deve ser 'inventado'. Una lembranças a dados estatísticos. Ex.: Na sua infância, os brinquedos de vinil eram raros e os eletrônicos inexistentes? Como isso acontece no presente? Narre algum fato interessante sobre brincadeiras.
‒ Prepare-se para tolerar abstrações e enfrentar
dificuldades durante o processo de aprendizagem das técnicas de narração.
A narrativa em terceira pessoa também não garante facilidades para a escrita, quando o narrador permanece na posição narcisista.
A narrativa em terceira pessoa também não garante facilidades para a escrita, quando o narrador permanece na posição narcisista.
A
autora iniciante deve construir um narrador que não fique "olhando só para
o próprio umbigo" o que poderia deixar sua narrativa pobre.
‒ Mostre claramente qual é a perspectiva da narrativa: incorpore as
lições de Kurosawa em Rashomon,
parta da pluralidade social.
O narrador é o bandido, o Samurai, a representante do gênero feminino? É o empresário do agronegócio, o investidor da bolsa de valores, a dona de casa que vai ao supermercado? É o desempregado?
O narrador é o bandido, o Samurai, a representante do gênero feminino? É o empresário do agronegócio, o investidor da bolsa de valores, a dona de casa que vai ao supermercado? É o desempregado?
Por
exemplo, se inventar um narrador para contar o impeachment do presidente Collor, ele terá de optar por
uma perspectiva de quem teve seu dinheiro bloqueado ou pela perspectiva de quem
conseguiu se safar do bloqueio e se deu bem. Nesta perspectiva, safou-se porque
estava próximo ao governo e foi avisado de que haveria o "pacote
econômico" ou porque não detinha recursos financeiros acumulados? A partir
do narrador pode-se inventar seu antagonista.
Quem
adotar Machado de Assis por modelo revelará isso no primeiro parágrafo, como
ele o fez no conto Missa do Galo.
Ex.: “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos
anos, contava eu dezessete, ela trinta." (ASSIS, M.).
A
principal dica:
‒
Creia no seu potencial de leitura e de escrita.
A Professora.
Florianópolis,
22 de abril de 2016.
Caras Alunas e
Caros Alunos da Oficina de Escrita Criativa,
Desejo
que estejam todos muito bem! Estamos, pouco a pouco, tecendo nossos laços de
ensino-aprendizagem. Considero que os ingredientes principais desse trabalho artesanal são: a paz
cordial, a tranquilidade nos contatos, a compreensão tolerante, a lucidez nas
atitudes...
Ao
encerrar a primeira unidade do plano de ensino da Oficina de Criação Literária
parabenizo, com alegria, os que: assistiram às três aulas dadas; enviaram duas
tarefas: a- narração de sua chegada a Florianópolis (quer por nascimento ou
mudança); b- narração de um fato marcante, associando-o a uma música; publicaram
no blog Netiativo e responderam a todas as perguntas do questionário dado.
Atenciosamente,
a professora.
Florianópolis,
15 de maio de 2016.
Caros alunos da
turma 2016.1,
Após
as leituras referentes à Oficina de Criação Literária, desliguei o computador e
fui ao teatro. Após
assistir a peça O Avaro ‒ produção espanhola trazida para SC pelo Fita Floripa,
tive um sono bem tranquilo e, ao acordar, havia um refrão novo cantando na
minha cabeça que queria 'puxar' um texto.
Era
a frase: "tomo da tua palavra e me deleito dela". Que inspiração
"saia justa"! O correto seria dizer "tomo tua palavra e me
deleito com ela". Mas refrão é algo que bate à nossa porta, que grita e
chora até ser amado... Alguém queria tomar a palavra? Ouvi...
Blogblogblog!
Tomo
da tua palavra: e centro o dia contigo
Tomo
da tua palavra: curto circuito engraçado
Tomo
da tua palavra: nesta rua daquela infância
Tomo
da tua palavra saudosa filha de mãe Além
Tomo
da tua palavra: bananas e cebolas
Tomo
da tua palavra ponte caloura para a H. Luz
Tomo
da tua palavra: desconfiança civil...
Tomo
da tua palavra bêbada equilibrista
Tomo
da tua palavra bule derramado
(Culpado?
O cachorro de rabo preto da roça de Orleans)
Tomo
da tua palavra: larva que passa como uma onda no mar
Tomo
da tua palavra e Blogblogblog!
Tomo
da tua palavra e me deleito dela.
Caros
alunos da turma Oficina de Criação Literária 2016.1, estamos no momento do curso
em que tomo da tua e da minha palavra e faço um leito com elas. Nesse rio,
rio/rimos... Que lá vem mais alegria textual!
REFERÊNCIA
MEROLA. Cartas em Posfácio in Diálogos da Maturidade. Florianópolis: Postmix, 2016.
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