sábado, 8 de agosto de 2020

Lendo Cinema X. Whisky.

WHISKY – Direção: Juan Pablo RebellaPablo Stoll – 2004

"Whisky" fala sobre o dono de uma fábrica em Montevidéu que simula casamento com uma funcionária ao receber o irmão, que não vê há duas décadas, para celebração judaica no túmulo da mãe. "Whisky" é a palavra que um dos personagens do filme, um fotógrafo, pede para as pessoas dizerem, para que se apresentem sorrindo nas fotos.... Corresponde ao “Xis” ou “alface” que nós brasileiros usamos na hora do clic.
Curiosidades : Os organizadores do Festival de Valdivia, no Chile, convocaram programadores de nove eventos cinematográficos para eleger os 10 melhores filmes latino-americanos dos últimos 20 anos. A eleição foi feita em comemoração aos 20 anos do festival.
Em primeiro lugar ficou o filme uruguaio "Whisky" (2004) de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella, esse último morreu em 2006, aos 32 anos. Uma surpresa porque superou os mais aclamados argentinos.

Abertura, mediação - escolha do filme - por Brígida Poli




"Whisky" e a felicidade fake por Edna Domenica Merola

Em tempos de pós verdade, o que continua valendo é a imagem ( uma que vale mais do que mil palavras). Redes sociais noite e dia vendendo e comprando imagens. Famílias, igrejas e demais instituições, vinte e quatro horas por dia no comércio da imagem. 
No filme, Whisky,  o protagonista é o primogênito de uma família judia que foi o cuidador dos pais e da pequena fábrica de meias da família. Já o caçula seguiu sua vida, casou-se, teve filhos, usufrui do que amealhou com seus próprios negócios (ainda que no mesmo ramo dos pais). 
O protagonista não consegue se relacionar com as pessoas, nem com os bens materiais. Vive a morte parental de maneira a não usufruir da própria vida. Quando o irmão, após muitos anos ausente vai visitá-lo, inventa a vida que não conseguiu viver. 
Após assistir ao filme, lembrei-me de um chefe que tivemos como educadoras e que dizia ao tirarmos fotos: "façam cara de inteligentes". Quem foi supervisora escolar em certa megalópole, na década de noventa, sabe de qual secretário da educação estou falando. Era sua melhor piada (que Deus o tenha junto com ela!). Era a imagem de equipe capaz que ele intentava preservar ou a da equipe bem humorada? De qualquer maneira era a imagem, apenas ela!
Assim consumia o momento das fotos das quais nunca me preocupei em guardar alguma cópia comigo... 
No lugar da preocupação com a imagem que me afasta da experiência vivida, tento colocar a autenticidade que revela sentimentos. Começo pelo apreço/ repúdio. Não é lá uma panaceia, mas é um caminho que pode levar à  reflexão necessária para uma vida mais consciente e plena.


Reflexões de Clara Pelaez Alvarez sobre Whisky
Um filme sobre hábitos e mulheres invisíveis em uma sociedade de homens egocêntricos. Com diálogos poucos e parcos a personagem feminina é que imprime a ação no filme. Ela é a alma de tudo. Sem ela nenhum ele vive. Neste filme o masculino se expressa pela competição e o feminino pela cooperação. O masculino é tosco e manipulador. O feminino é genial e flexível. Apesar dos hábitos ela abraça o novo e vai vivendo o processo divertindo-se no caminho. Até que, por fim,  a libertação. Ela não estava mais lá em frente àquela porta cinza feio esperando pelo carcereiro cujo cérebro foi danificado por anos de vício em mediocridade. Ele permaneceu preso ao ritmo das meias novas, ela simplesmente sumiu de uma história pequena.

Brígida de Poli é jornalista, cronista, cinéfila, colunista do Portal Making Of  http://portalmakingof.com.br/cine-e-series. Simpatizante e voluntária em prol dos direitos e do bem-estar de refugiados. Idealizadora e mediadora do Lendo Cinema, autora do livro As Mulheres de Minha Vida, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-mulheres-da-minha-vida/

Clara Pelaez Alvarez é pesquisadora da ciência das redes.

Edna Domenica Merola, mestre em Educação e Comunicação. Autora do livro As Marias de San Gennaro, Coleção Palavra de Mulher, Editora Insular https://insular.com.br/produto/as-marias-de-san-gennaro/.

Links para leitura de postagens anteriores de Lendo Cinema

Lendo cinema I – O Jantar (Oren Moverman, 2017)

Lendo cinema II – As Baleias de Agosto (Lindsey Anderson, 1987)

Lendo cinema III – Eu, Daniel Blake (Ken Loach, 2016)

Lendo cinema IV – O Cidadão Ilustre (Mariano Cohn, 2017)

Lendo cinema V – A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batatas (Mike Newell, 2017)

Lendo cinema VI – O Filme da Minha Vida (Selton Melo, 2017)

Lendo Cinema VII – Nossas Noites (Ritshe Batra, 2017)

Lendo Cinema VIII – O Filho da Noiva (Juan José Campanella, 2001)

Lendo Cinema IX – O Vazio do Domingo (Ramón Salazar, 2018)


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